História de Roma

Tenho estudado a História de Roma, de forma aprofundada. E é, com efeito, digna de um conjunto de adjectivos incrivelmente extenso. É um espelho bem polido da espécie humana, e um dos seus capítulos mais complexos e completos. Verdadeiramente fascinante, épico, comovente, aterrador.

Como é que uma pequena aldeia do Lácio, no centro da Itália, ao longo de tantos séculos, cresceu e se metamorfoseou em tantos regimes, tão diferentes entre si? Desde o Direito Romano da República ao despotismo completamente insano de alguns imperadores da fase pós-Octávio, nada falta na História de Roma. Algumas situações popularizadas pela cultura de massas do século XX são desmistificadas. E, como habitualmente, a realidade é muito mais interessante (no bom e no mau sentido) que a ficção. Alguns pontos de interesse, que talvez sirvam para aguçar a curiosidade:

Lembram-se do Imperador Comodus, do filme Gladiador? Acham que o fictício era mau? Ao lado do verdadeiro é um humanista convicto...

Fala-se muito em Nero, mas ao lado dos déspotas da fase negra do Império, aquele era, precisamente, um alegre "entertainer." Que, depois de mandar matar a mãe, e de lhe trazerem o seu cadáver, lamentou não a ter possuído, quando ela o propõs... O mesmo Nero, que, ao ver na rua um rapaz que lhe lembrou a sua falecida mulher, levou-o para o palácio, mandou-o castrar, e, como é óbvio, casou-se com ele. Podia ser maluco, o nosso Nero, mas tinha os seus valores. E há quem ache o Charles Manson doido...

Júlio César, o grande vencedor da Gália, representado como grande antagonista dos Celtas. Na verdade, a sua famosa Décima Terceira Legião era composta, na sua maioria, por gauleses, a quem deu a cidadania, e em quem confiava. Bem mais que em muitos Romanos.

Já havia ateus, no mundo pagão clássico. Sempre houve, desde que o mundo é mundo.

Falar de Roma é também falar de Cristianismo. E na verdade, quem estudar a sua história, apercebe-se que o Cristianismo de Paulo, renovado, é uma adaptação à realidade urbana de Roma. Paulo alterou, renovou, um grande número de preceitos da doutrina original. E orientou a nova religião para camadas da população a que chamaríamos hoje a classe média. Trocou as difíceis pregações no deserto pelo cosmopolitismo urbano. Para que pudesse granjear adeptos, claro. As pessoas acreditam-se, literalmente, numa ficção. Porque nem do Cristianismo original falamos. Esse era orientado apenas para os Judeus. E por isso os Cristãos de Roma chamavam Pagãos aos Politeístas. Pagus em latim, significa uma espécie de aldeia. Paganus, aquele que vive na aldeia. E esses eram muito difíceis de converter.

O último Imperador oficial do Império do Ocidente tem o mesmo nome do mitológico fundador da cidade: Rómulo. Nenhum outro chefe de estado Romano teve, julgo eu, esses nomes, no espaço de mais de 1000 anos. Curioso, não?

Aconselho vivamente o capítulo das Guerras Púnicas. Quem gosta de Bernard Cornwell, vai adorar isto. A Segunda Guerra Púnica é verdadeiramente épica, e está directamente relacionada com a História da Península Ibérica, e do seu destino. Houve um Aníbal que não era Cavaco, em outros tempos!


E para acabar, menciono o imperador Calígula, que em apenas quatro anos de intensa loucura, não se esqueceu de nomear como senador o seu próprio cavalo. É de valor. Estou certo que este também seria anti-touradas.

Livro recomendado:

Indro Montanelli - A História de Roma. Da Fundação à Queda do Império; Edições 70. Colecção História Narrativa. -

http://www.edicoes70.pt/site/node/3?id=4116

Este historiador italiano, falecido em 2001, escreveu a História da Urbe de forma completíssima, e ao mesmo tempo cómica, dramática, apaixonada. É uma abordagem muito refrescante, e ao mesmo tempo muito científica, analítica e pragmática. Eu ri-me a bandeiras despregadas com algumas passagens, e fiquei comovido com outras. É a melhor opção para o leitor não-historiador, e obrigatória para ambos.

Devo no entanto registar uma falha: Não foi Constantino a fazer do Cristianismo a religião oficial do Estado Romano. Abraçou-a como sua, fortaleceu-a muito, e deu a machadada quase final no Paganismo Clássico, do ponto de vista cultural. Mas não houve imposições. Foi o Imperador Teodósio que tornou o que restava do Império, oficialmente, cristão. E iniciou a perseguição aos pagãos.

As páginas da Wikipedia, em inglês, também estão muito boas, e bastante fiáveis.

E bom, fica aqui a minha sugestão.

Bom texto. Também tenho andado a pensar ler algo relacionado com história em vez de um romance, não sei qual será mais aprazivel ou se os livros históricos não serão um bocado pesados. O problema é onde começar, sempre que vou à biblioteca fico algum tempo a pesquisar e a folhear livros mas depois acabo sempre por não me decidir. O ideal para mim seria juntar a historia à filosofia e ler algo sobre a grecia antiga. Outra possibilidade seria a prorpria historia de portugal.

Mas agora que me falas disso, e se dizes que os livros historicos leem-se bem, acho que vou mesmo pensar no assunto.

Váli, acredita que este livro que recomendei tem romance e intriga quanto baste! Quanto aos livros históricos, é como quaisquer outros. Depende do estilo do autor. Há quem considere vários romancistas demasiado difíceis de digerir. Não houve muita gente da minha turma do secundário a ler integralmente os Mais do Eça, por exemplo

O História de Roma do Montanelli é bastante expressivo e cativante. Não é pesado, e não falta informação. Claro que isto do meu ponto de vista

Esse livro parece fascinante, Aelle. Eu gostei de ler Os Doze Césares, onde o grau de insanidade atribuido à generalidade dos imperadores romanos é bastante elevado xD Gostava era que o Cornwell pegasse no tema dos romanos.

Ceinwyn escreveu:

Esse livro parece fascinante, Aelle. Eu gostei de ler Os Doze Césares, onde o grau de insanidade atribuido à generalidade dos imperadores romanos é bastante elevado xD Gostava era que o Cornwell pegasse no tema dos romanos.

Ah sim, os Doze Césares do Suetónio! Bem lembrado, por coincidência vão devolver-me esse livro amanhã lol. Eh pa, sim, se o homem pegasse nesse tema era qualquer coisa. Nem precisava de alterar a História, mas se a transpusesse para alguns diálogos épicos simulados e baseados nos factos, à Hermano Saraiva, seria excelente

Na Câmara Clara deste domingo falou-se de Conímbriga e de Roma em geral.

http://camaraclara.rtp.pt/#/arquivo/277

Pela descrição, esse livro deve ser qualquer coisa de intenso e apaixonante. Mais um para acrescentar à lista!