Setenta e cinco luas antes, perto de Mediolanum (actual Milão)...
Fim da manhã e o sol está bem lá no alto. Por causa do calor, a ideia em estar dentro do rio é uma imagem ansiosa enquando correm para a margem. Entre crianças e alguns adultos, o prazer é mutuo para disfrutar a fresca água do rio Adda.
Paulus encontra-se em licença prolongada na “Villa Macro” (uma propriedade e residência de campo), de seus pais.
Já recuperado das feridas do heróico confronto contra o poderoso exército Persa, ultrapassou uma terrivel fase de dor, agonia e pesadelos.
Há muito que Roma mudou a sua filosofia, abraçando o modelo definitivo de uma república livre, permitindo que o povo seja peça fulcral no destino do império e prosperando principamente na paz com os povos para lá das suas fronteiras. A guarda pretoriana foi desmobilizada e o senado passou a ter novos estatudos e regras. Foram criadas quintas e frotas de pesca em regimes de cooperativas populares.
Foi graças a isso que pais, esposas e filhos deixaram em ver os seus entes queridos a marchar para longe, sem saber se alguma vez voltariam.
Foram tantas e vezes sem conta que bravos soldados das legiões romanas, qualquer que fosse a sua nacionalidade, morriam em vão e sem glória pelos caprichos de líderes ou senadores corruptos, apenas para saciar os seus vicios, com mentiras e enganos a generais, legados e centuriões. Eram militares que seguiam ordens, por mais absurdas que fossem, pois a hierarquia assim o determinava.
Por causa disso há muito tempo atrás, por descobrir a corrupção e jogos de interesses no senado, que Júlio César foi assassinado. Desistia de governar para estar com aqueles que eram de facto a sua familia e a quem confiava, até mesmo a sua vida: as legiões!
Brutus, seu filho adoptivo julgava ser o próximo a governar, mas Júlio César já tinha sucessor escolhido, o sobrinho Octavio. A sua escolha era a mais acertada, apesar de muito jovem, era culto, justo e abominava a corrupção, sendo humilde e amigo do povo´para além de ser acarinhado pelas legiões de César.
Com isso, Júlio César pagou com a vida. As legiões que honravam-no e o consideravam um pai, não descansaram até que vingassem a sua morte. Dizem que Brutus proferiu antes de falecer"...meu pai, o que é que eu fiz!"
Infelizmente houve comandantes romanos que ao cumprir essas ordens, foram levados para emboscadas, onde sofriam massacres devido a falsas informações. Serviam como martires de planos maquiavélicos de senadores para derrubar a imagem da concorrência ou até mesmo dos próprios soberanos, perante o povo.
Obviamente que também existiram generais que eram tão terriveis quanto os senadores, mas contam-se os dedos de duas mãos para os que o fizeram.
Esses mesmos generais desonravam dessa forma, o estandarte da legião e os principios fundamentais da mesma: honra, camaradagem, valor, lealdade, amizade, orgulho e união da legião romana. Factores que permitiam que uma legião depende-se apenas de si mesma bem longe da pátria e seus lares. Principios que infelizmente estão muito esquecidos nos dias de hoje.
Mas existiu muitos lideres militares que pensavam mais nos seus homens do quem em ordens sem qualquer conteudo ou lógica, pois quem as ordenava não eram soldados e sim impiedosos e gordos senadores.
O pai de Paulus era um desses oficiais, o general Vilnius Savério Macro, um líder sensato, respeitado pela Confederação Tribal e "amado" pelos seus homens. Ficou famoso ao comando da Sétima Legião e com apenas quarenta por cento dos seus efectivos, pela defesa heróica de Felitas Julia (actual Lisboa), da conquista e invasão pelo rio Tejo de vikings renegados, que já tinham afligido uma pesada derrota mais a norte onde desembarcara o grosso da exército viking, a uma forte resistência de tribos Celtas e de Vetões, apanhados de surpresa pela calada da noite.
Era crucial defender a cidade, pois era uma porta de entrada não só para as terras livres da Confederação Tribal, mas também para o Império Romano.
Felicitas Júlia encontra-se na provincia romana de Lusitânia, território que foi reduzido em trinta por cento para a Confederação Tribal, após o pacto de paz em Alesia (Gália)., aumentado dessa forma as fronteiras do reino de Lusitânia Folk.
A mudança para melhor era clara em Roma, mas Germanos, Celtas, Bretões e muitas outras tribos, desconfiavam disso pois julgavam existir ratoeiras por ser bom de mais para ser verdade. Mas a realidade era outra e as provas eram cada vez mais reais.
As guarnições fronteiriças romanas estavam autorizadas em auxiliar na construção e protecção quando necessário.
A Sétima Legião aguentou-se até a chegada do restante contigente que vinha de Pax Julia (actual Beja), juntamente com um numeroso e bem organizado exército da Confederação Tribal. Após derrotarem o inimigo avançaram para norte e duas semanas depois encurralaram os vikings com o Suevos e a Segunda Legião Victrix que estava aquartelada em Bracara Augusta (Actual Braga).
Um emissário viking que veio de um vasto reino na actual escandinávia, levaria as cabeças dos lideres dos renegados e como uma forma em minimizar os estragos e vidas roubadas, o rei viking Guaphor enviou toneladas de ferro, madeira e prata.
Chapinhavam sem parar na água, quando de súbito Paulus é alertado por um empregado de um grupo de cavaleiros a aproximar-se já bem dentro da herdade.
Tenta avistar colocando a mão sobre os olhos, pois o sol não facilita em observar directamente.
É notorio que galopam a uma elevada velocidade, pelo muito pó que se levanta na retaguarda do grupo.
Á medida que se aproximam e já em um óptimo campo de visão, Paulus repara que são militares e que estão dois guerreiros germanos a acompanha-los.
O pequeno grupo de nove cavaleiros pára diante dele. Seis legionários, um centurião e os dois entrangeiros.
Após descerem dos seus cavalos, os romanos fazem a saudação militar. O centurião e um dos estrangeiros são dois velhos amigos, é Gapião Nessos e Amalanno. Paulus pensa que raios faz ali um centurião chefe da Segunda Legião e um lider de uma das tribos germanicas!
Mas antes que podesse questiona-los, Amalanno avança sorrindo e os dois abraçam-se.
- Mas que fazes aqui? - Pergunta Paulus no dialecto germano.
Amalanno entrega um manuscrito selado.
- Fiz questão em te entregar pesoalmente "Greer"!
Greer é o nome tribal com que Paulus foi "baptizado" após a batalha de Marcomanni, na Germania, que significa guardião. O todo poderoso exército persa invade a Sarmatia e posteriormente a Germania e as provincias a norte do Imperio Romano.
Na decisiva batalha Paulus protege o rei Bienulfo que se encontrava ferido, com a sua coorte e a guarda pessoal do monarca, optando pela formação tartaruga. Uma táctica em que consiste usar os escudos romanos para formar as paredes e o tecto, criando uma protecção blindada semelhante à carapaça da tartaruga.
Em vez de um simbolo lacrado Paulus repara que são dois, um é o cunho imperial e o outro da aliança guerreira Germano Céltico Bretã.
Sem perder tempo, Paulus lê o documento com as mãos a tremerem.
“Saudações Paulus Massana Macro.
Roma e a Aliança Germano Céltico Bretã, devido às últimas circunstâncias a que és alheio, declara-te apto para reintegrares o teu posto e funções com efeitos imediatos, para uma missão do qual dependerá o futuro de todos nós.
Temos provas que demonstraram a existência de um mal nunca visto, que vive do caos e fraquezas humanas e se preparara para mudar a noite e o dia, numa plena escuridão sem luz.
Há uma profecia que declara que um dia o manto negro reinaria sobre nós, provocando a morte para uns e escravidão para outros. Mas há um obstaculo que existe na terra pura, que após a sua destruição abrirá as portas para o rei da total escuridão.
Essa terra pura segundo os druidas da Bretanhã, está situada na cidadela real em Folk Lusitânia e que para evitar a sua destruição, terão que lá estar os mais valorosos guerreiros capazes de defender esse reino.
Temos informações que essas forças dos mal persuadiram pela fraqueza e cobiça de reis, e chefes de tribos que viraram as costas aos tratados de paz e tornaram-se inimigos de quem esteve em Alesia. Estão a organizar um grande exército, matando os mais fracos.
A profecia refere que no passado cinco mil guerreiros venceram a batalha ali travada no mesmo local, prevalecendo a noite e o dia. Dessa forma outros cinco mil vão estar em Folk Lusitânia.
Levarás duas coortes, tropas auxilares e dois esquadrões de cavalaria, no total de mil e setecentos homens. Mas serás tu a escolher e é necessário que sejam todos humildes e fortes no espirito e impossiveis em serem persuadidos a quebrar os principios da legião perante o mais ousado e pior inimigo que alguma vez defrontaram. O ponto de encontro será na cidadela real, seguindo caminhos marcados pelos batedores de Amalanno e locais para pernoitarem.
A partir do momento que comesem a vossa marcha, vocês jã serão parte dos cinco mil bravos.
Nesse momento todas as outras nações ou alianças levantaram as cabeças quando depararem-se com os cinco mil, vendo ao longe o vosso estandarte, pelo sacrificio do bem sobre o mal. Mil e setecentos que nos cinco mil vão ser um só!
Agora sim, vão saber que Folk Lusitânia estará defendida pelos melhores cinco mil guerreiros deste mundo.
Enquanto viver um soldado romano nessa inevitavel batalha, empunhá o estandarte até ao último homem, pois representará sempre a vossa pátria, as vossas familias e a liberdade.
Cada um de vós tem a responsabilidade de proteger a rectaguarda de qualquer camarada de armas dos cino mil.
Eles que venham!
Rendição nunca! Liberdade ou morte!
VOSSO GRITO DE GUERRA! - UNUM!"
E assim durante vários meses, Paulus e Amalanno marcharam com os seus homens
até que chegaram à citadela real.
Ainda existe guerreiros na Confederação Tribal da velha guarda que os insulta ou olham com odio e desconfiança de morte, mesmo depois da paz alcançada em Alesia e das provas de boa vontade dos romanos.
A presença romana neste reino, nunca ou jamais será de falsidades ou de conquista por parte de Roma. Vieram em paz e numa missão para proteger Folk Lusitânia. Se necessário sacrificarão as suas vidas numa batalha sem precedentes.
Durante os meses em que levaram a chegar a Folk Lusitânia, houve outros desenvolvimentos de que os Persas aliaram-se ao lado negro.
Se algo acontecer a este reino, o equilibrio no mundo conhecido será rompido e da harmonia e paz, virá o caos e o dominio das trevas. E se eles tentarem, os vossos machados, falcatas e os nossos gladios será a última e definitiva resistência armada, neste último reduto! Para haver a paz, teremos que ir uma última vez para a guerra!
Podeis olhar-nos, uns com desprezo, outros com desconfiança, outros até com respeito.
Os legionários que olham com relutância no exterior, faz parte dos cinco mil.
A profecia está a cumprir-se! Enchem esses calices de cidra ou hidromel e que a carne assada faça maravilhas nas nossas barrigas, assim como o convivio."
By Paulo D.
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