Cultura
É um fenómeno eterno: a
ávida vontade vai sempre encontrar um meio de fixar as suas criaturas na
vida através de uma ilusão espalhada sobre as coisas, forçando-as a
continuar a viver. Este vê-se amarrado pelo prazer socrático do
conhecimento e pela ilusão de poder, através do mesmo, curar a eterna
ferida da existência; aquele vê-se envolvido pedo véu sedutor da arte
ondeando diante dos seus olhos; aquele, por seu turno, pela consolação
metafísica de que sob o remoinho dos fenómenos continua a fluir,
impreturbável, a vida eterna: para não falar das ilusões mais comuns, e
talvez mais vigorosas, que a vontade tem preparadas em qualquer
instante.
Aqueles três níveis de ilusão destinam-se apenas às
naturezas mais nobremente apetrechadas, nas quais a carga e o peso da
existência são em geral sentidos com um desagrado mais profundo e que
podem ser ilusoriamente desviadas desse desagrado através de
estimulantes seleccionados. É nestes estimulantes que consiste tudo o
que chamamos cultura.