O Ciclo do Progresso
Da sociedade e do luxo que ela engendra, nascem as artes liberais e
mecânicas, o comércio, as letras, e todas essas inutilidades que fazem
florescer a indústria, enriquecem e perdem os Estados. A razão desse
deperecimento é muito simples. É fácil ver que, pela sua natureza, a
agricultura deve ser a menos lucrativa de todas as artes, porque, sendo o
seu produto de uso mais indispensável para todos os homens, o preço
deve estar proporcionado às faculdades dos mais pobres. Do mesmo
princípio pode-se tirar a regra de que, em geral, as artes são
lucrativas na razão inversa da sua utilidade, e de que as mais
necessárias, finalmente, devem tornar-se as mais negligenciadas. Por ai
se vê o que se deve pensar das verdadeiras vantagens da indústria e do
efeito real que resulta dos seus progressos. Tais são as causas
sensíveis de todas as misérias em que a opulência precipita, finalmente,
as nações mais admiradas.À medida que a indústria e as artes se
estendem e florescem, o cultivador desprezado, carregado de impostos
necessários à manutenção do luxo, e condenado a passar a vida entre o
trabalho e a fome, abandona o campo para ir procurar na cidade o pão que
devia levar para lá. Quanto mais as capitais impressionam de admiração
os olhos estúpidos do povo, tanto mais seria preciso lastimar o abandono
dos campos, as terras incultas e as estradas cheias de cidadãos
desgraçados transformados em mendigos ou ladrões, e destinados um dia a
acabar a sua miséria pelos caminhos ou sobre um monte de esterco. É
assim que o Estado se enriquece por um lado, e se enfraquece e se
despovoa, por outro, e que as mais poderosas monarquias, após muitos
trabalhos para se tornarem opulentas e desertas, acabam por se tornar a
presa de nações pobres que sucumbem à funesta tentação de as invadir, e
que são invadidas e enfraquecem por sua vez, até que elas mesmas sejam
invadidas e destruídas por outras.