O Constante Desejo de Mudança Cega o Progresso
Penso, baseando-me em todos
os dados que de há um ano para cá nos saltam aos olhos, que se pode
afirmar que qualquer progresso deve acarretar necessariamente não um
avanço ainda maior mas, ao fim e ao cabo, a negação do progresso e o
retorno ao ponto de partida. A história do género humano prova-o. No
entanto, a confiança cega desta geração, e da que a precedeu, nas ideias
modernas, no advento de não sei que era da humanidade que deveria
marcar uma profunda transformação - mas que, no meu entender, para
influenciar o destino de cada um deveria antes de mais afectá-lo na
própria natureza do homem -, esta confiança no futuro, que nada nos
séculos que nos precederam justifica, constitui seguramente a única
garantia desses bens futuros, dessas revoluções tão desejadas pela
vontade dos homens.Não será evidente que o progresso, ou seja a
marcha progressiva das coisas - tanto para o bem como para o mal -,
acabou, hoje, por conduzir a sociedade à beira de um abismo, onde ela
poderá facilmente vir a cair para dar lugar à mais completa barbárie? E a
razão disso, a única razão para que isso suceda, não residirá nessa lei
que neste mundo impõe a todas as outras: isto é, a necessidade de uma
transformação, qualquer que ela seja? É preciso mudar. Nil in eodem statu permanet.
O
que a sabedoria dos antigos, antes de ter passado por tantas
experiências, descobriu, teremos mais tarde ou mais cedo de o aceitar e
de o viver. O que hoje em nós se extingue voltará sem dúvida a surgir de
forma diferente ou subsistirá noutras condições, mais ou menos
duradoiramente.