Folk Lusitânia
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 Soren Kierkegaard

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MensagemAssunto: Soren Kierkegaard   Soren Kierkegaard Icon_minitimeQui Jul 05, 2012 6:35 pm

A Grandiosidade do Homem Depende da Mulher, mas Só Enquanto não a Possui...

O homem deve à mulher tudo quanto fez de belo, de insigne, de espantoso,
porque da mulher recebeu o entusiasmo; ela é o ser que exalta. Quantos
moços imberbes, tocadores de flauta, não celebraram já o tema? E quantas
pastoras ingénuas não o ouviram também? Confesso a verdade quando digo
que a minha alma está isenta de inveja e cheia de gratidão para com
Deus; antes quero ser homem pobre de qualidades, mas homem, do que
mulher - grandeza imensurável, que encontra a sua felicidade na ilusão.
Vale mais ser uma realidade, que ao menos possui uma significação
precisa, do que ser uma abstracção susceptível de todas as
interpretações. É, pois, bem verdade: graças à mulher é que a idealidade
aparece na vida; que seria do homem, sem ela? Muitos chegaram a ser
génios, heróis, e outros santos, graças às mulheres que amaram; mas
nenhum homem chegou a ser génio por graça da mulher com quem casou; por
essa, quando muito, consegue o marido ser conselheiro de Estado; nenhum
homem chegou a ser herói pela mulher que conquistou, porque essa apenas
conseguiu que ele chegasse a general; nenhum homem chegou a ser poeta
inspirado pela companheira de seus dias, porque essa apenas conseguiu
que ele fosse pai; nenhum homem chegou a ser santo pela mulher que lhe
foi destinada, porque esse viveu e morreu celibatário. Os homens que
chegaram a ser génios, heróis, poetas e santos cumpriram a sua missão
inspirados pelas mulheres que nunca chegaram a ser deles.Se a
idealidade da mulher fosse positivamente, e não negativamente, um factor
de entusiasmo, inspiratriz seria a mulher à qual o homem, casando, se
unisse para toda a vida. A realidade fala-nos, porém, outra linguagem.
Quero dizer que a mulher desperta, sim, o homem para a idealidade, mas
só o torna criador na relação negativa que mantém com ele. Compreendidas
assim as coisas, poderá efectivamente dizer-se que a mulher é
inspiradora, mas a afirmação directa não passa de um paralogismo em que
só a mulher casada pode acreditar. Quem ouviu alguma vez dizer que uma
mulher casada tivesse conseguido fazer do marido um poeta? A mulher
inspira o homem, sim, mas durante o tempo que for vivendo até a possuir.
Tal é a verdade que está escondida na ilusão da poesia e da mulher.

Que o homem não possua a mulher, isso é o que pode ser entendido de várias
maneiras. Ou está ainda na luta para a conquistar, e assim se disse que a
donzela entusiasmou o amante a ponto de fazer dele um cavaleiro, mas
nunca se ouviu dizer que um homem se tornasse valente por influência da
mulher com quem casou. Ou está convencido de que nunca lhe será possível
casar com ela, e assim se diz que a donzela entusiasmou e despertou a
idealidade do amante que se manifestou capaz de cultivar os dons
espirituais de que porventura era portador. Mas uma esposa, uma dona de
casa, tem tantas coisas prosaicas com que se preocupar, que nunca
desperta no marido a idealidade.
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MensagemAssunto: Re: Soren Kierkegaard   Soren Kierkegaard Icon_minitimeSex Jul 06, 2012 6:35 pm

O Irracional no Amor

Se é ridículo beijar uma
mulher feia, também é ridículo dar um beijo a uma beleza. A presunção de
que amando de uma certa maneira se tem o direito de rir do vizinho que
tem outra maneira de amar, não vale mais do que a arrogância de certo
meio social. Tal soberba não põe ninguém ao abrigo do cómico universal,
porque todos os homens se encontram na impossibilidade de explicar a
praxe a que se submetem, a qual pretende ter um alcance universal,
pretende significar que os amantes querem pertencer um ao outro por toda
a eternidade, e, o que mais divertido é, pretende também convencê-los
de que hão-de cumprir fielmente o juramento.Que um homem rico,
muito bem sentado na sua poltrona, acene com a cabeça, ou volte a cara
para a direita e para a esquerda, ou bata fortemente com um pé no chão, e
que, uma vez perguntado pela razão de tais actos, me responda: «não
sei; apeteceu-me de repente; foi um movimento involuntário», compreendo
isso muito bem. Mas se ele me respondesse o que costumam responder os
amantes, quando lhes pedem que expliquem os seus gestos e as suas
atitudes, se me dissesse que em tais actos consistia a sua maior
felicidade, como é que eu poderia impedir-me de ver o ridículo de tal
explicação - tal como o exemplo que há pouco dei; se bem que diferente, é
certo -, enquanto tal homem não se resolvesse a pôr termo à minha
hilaridade, confessando que esses gestos não tinham significação alguma.
Num repente, com efeito, a contradição, que é a base do cómico,
desaparece; porque não há nada ridículo em que uma coisa destituída de
sentido seja reconhecida como tal, mas é grotesco atribuir-lhe um
alcance universal. Em relação ao involuntário, a contradição reaparece:
não é possível admitir o involuntário num ente racional e livre.
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