Amongst White Clouds

Gostava de dar-vos a conhecer um documentário que, pela minha forte tendência pessoal para esta temática em especifico, muito me tocou, e que já vi repetidas vezes: Amongst White Clouds.

O director e produtor Edward A. Burger, inspirado no livro de Bill Porter "Road to Heaven", lançou-se nas montanhas de Zhōngnán, na China, em busca dos Eremitas de tradição Zen Budista/Taoista que ainda hoje habitam naquelas montanhas, sendo o documentário o resultado dessa viagem.

O Eremitismo na China sempre teve uma forte presença e influência desde tempos imemoriais, e os seus adeptos sempre foram altamente apreciados e valorizados, mesmo por diversos Imperadores que buscavam os seus conselhos e sabedoria, sendo muito comuns as histórias que tal facto reflectem.

Aqui, mesmo após a Revolução Cultural Chinesa, tempo de opressão e forte perseguição religiosa, se encontra viva uma tradição milenar que o pó do mundo não chegou a tocar.

Parece interessante. Admiro o desprendimento e a capacidade que muitas dessas pessoas têm para apreciar as pequenas coisas. Felizmente também sou um pouco assim e descubro por vezes pequenos prazeres que passam completamente despercebidos à maioria.
No entanto, não sei se seria capaz de largar tudo e viver como eles vivem. Iria sentir faltar de principalmente duas coisas: livros e música.

De qualquer forma, terei de ver o documentário para perceber melhor o seu estilo de vida.

Já vi o documentário.
É bastante interessante ver a forma como as pessoas vivem a sua vida afastadas de tudo e com o objetivo de atingir a iluminação, o conhecimento de si próprio.

No entanto, do meu ponto de vista, o auto-conhecimento deve ter em conta as diferentes vertentes do Ser Humano. Afastar a componente social, afetiva e sexual não me parece o melhor caminho.
Como humanos que somos, temos de aceitar a nossa natureza como um todo e não abstermo-nos de parte dela.
Isso não significa seguirmos todos os nossos instintos de forma automática mas sim conhecermo-nos totalmente, aceitarmo-nos como somos e posteriormente melhorarmos em alguns aspetos.

No Zen este caminho faz parte do processo, mas tampouco é o "fim" desejado. Todo o praticante é fortemente encorajado a voltar ao pó do mundo depois de fazer o que tem a fazer sozinho, por forma a ajudar os outros e realizando-se naquilo que é ele mesmo. De outra forma a prática é considerada incompleta.
Por esta razão muitas artes floresceram no auge do Zen, desde a caligrafia, a pintura, a poesia, a música, a arte das flores, a arte do chá, a cerâmica e muitas outras, pois nem todos são no seu âmago bons professores, exprimindo-se cada um assim como ser único que é, e fazendo da sua arte o próprio ensinamento.

Se tiveres curiosidades espreita as Ten Oxherding Pictures também conhecidos como os Ten Bulls of Zen (aqui, sendo de relevo para a conversa o 8, 9 e 10), ou o caminho do Bodhisattva.

No entanto, este isolamento, que normalmente se segue a uma larga temporada em mosteiros, é visto como sendo imprescindivel para aprofundar a prática individual.

Estou a perceber; então o isolamento não é um fim mas um meio. Uma forma de aperfeiçoar-se a si mesmo para posteriormente voltar ao mundo "real" e transmitir os seus conhecimentos, seja através da palavra ou do exemplo.

Exacto, na grande maioria dos casos. No entanto também haverão os que se deixam ficar pela montanha, sem qualquer vontade de voltar ao mundo, mas acredito não serem muitos.

E, se reparares, dois dos eremitas que vês no documentário recebem discipulos, não estão alheados do mundo. Estão normalmente em contacto com abades ou mestres de mosteiros que lhes enviam alunos que julguem preparados para outro tipo de prática. O mais excêntrico chega mesmo a dizer que turistas não gosta de receber, pois são uma distracção, mas aldeões com dúvidas ou questões genuínas, tem todo o gosto em receber.
Já o último, recusa-se normalmente a receber gente por estar num período da sua prática mais intensa e que lhe exige verdadeira concentração e dedicação.

Cada um no seu caminho...

Sim, lembro-me disso. Aliás, não foi fácil chegar à fala com o último.