«O presente volume reúne um conjunto de onze ensaios sobre
diferentes temas e autores da poesia grega, de Arquíloco (séc. VII
a.C.) a Parténio de Niceia (séc. I a.C.), passando por Baquílides e Safo,
entre outros, a todo o momento referidos. Além do primeiro texto e
dos referentes a Baquílides, inéditos à data, os restantes foram recolhidos
de publicações avulsas em revistas da especialidade. Eles são o
resultado de quatro anos de reflexões sobre poesia grega e papirologia.
Houve necessidade de os aligeirar, despojando-os de citações em
grego e análises críticas mais complexas, úteis apenas a especialistas,
no intento de os tornar acessíveis a um público mais vasto, interessado
pelos temas da poesia grega.»
Excerto transcrito do In Limine do livro que aqui sugiro.
A Flauta e a Lira - Estudos sobre Poesia Grega e Papirologia, de Carlos A. Martins de Jesus
Tomei conhecimento deste trabalho através de um blog que costumo seguir. Ainda não o li, mas já me despertou o interesse, graças ao texto apresentado nesse mesmo blog - uma revisão do mito de Narciso. Acontece que foi encontrado há pouco tempo um papiro que fez rever as versões mais conhecidas do mito, pois a história que continha apresentava traços bem distintos daquela que conhecemos. São então apresentadas as duas versões, e apontadas e interpretadas as diferenças:
«… até ao verso 11, nada de diferente nos é permitido ler. Temos a expressão da beleza do herói, semelhante na aparência aos próprios imortais o preterir de todos os pretendentes, motivo do ódio por parte destes e o enamoramento pela própria figura. O verso 12, contudo, merece já mais atenção. O sonho a que se alude pode muito bem ser entendido como a ilusão (da beleza) que foi toda a vida de Narciso, algo que agora se lamenta amargamente, contemplada que foi a verdade (a fealdade) nas águas do lago. Esta hipótese parece confirmar-se no verso 13: a beleza chorada seria, no fundo, uma beleza que não há, e que, em boa verdade, se percebe nunca ter existido de facto. Talvez consequência dessa amarga descoberta, o acto de dar a morte (verso 14) é extremamente violento e imediato. Se aceitarmos, como parece credível, que o sujeito do verso é o próprio Narciso, e que o objecto directo é o sangue, estamos então a falar de um suicídio consciente e cruel. As coordenadas do final do mito estão então (…) completamente subvertidas. Narciso ter-se-á suicidado ao perceber ser uma ilusão a beleza que sempre julgou possuir.»
Interessante, ham? =)
O livro foi disponibilizado gratuitamente! Se tiverem ficado tão curiosos como eu, podem descarregar a obra integral, em pdf aqui.