Histeria contra os alimentos geneticamente modificados.
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Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Sáb Jun 08, 2013 3:24 am
Penso que toda a gente já deverá ter reparado nos múltiplos focos populares de histeria contra a modificação genética dos alimentos. Por vezes alega-se que é prejudicial à saúde, ou que irá colocar em risco a "naturalidade" da agricultura em nome do lucro e da chantagem de patentes. A luta contra a modificação genética já se tornou um grande movimento pelas redes sociais, com muita gente a embarcar nas críticas e acusações repetidas até à exaustão. É extremamente fácil depararmo-nos com um artigo na internet, um vídeo, um grupo no facebook, etc, a tecer comentários depreciativos a respeito deste assunto, especialmente contra a corporação Monsanto.
Mas será que as críticas são justificadas, será que o histerismo não estará a colocar a carroça à frente dos bois? Será que a aparente multidão que está contra isto está em consonância com o que a ciência determinou após décadas de estudo e de avaliação do impacto?
Este assunto parece ser dos tais que dão origem a acesas discussões, capazes de provocar o corte de relações pessoais entre indivíduos que discordam entre si, tal não é a militância e impulsividade com que se defendem as posições.
Dou início a este tópico com dois vídeos que rebatem os argumentos lançados contra a modificação genética. Convido subsequentes respostas de utilizadores deste forum a apresentarem argumentos contra a modificação genética ou a contestarem argumentos que são oferecidos nestes dois vídeos, ou simplesmente a depositarem o seu ponto de vista como bem entenderem, a favor ou contra, ou com uma neutralidade face ao assunto.
Este primeiro vídeo oferece um resumo rápido da história da modificação genética, aborda em especial a importância da Revolução Verde e o papel desempenhado por Norman Borlaug, que lhe deu direito a um Prémio Nobel, para além de abordar alguns argumentos oferecidos contra a modificação genética.
Este segundo vídeo contesta essencialmente as críticas populares lançadas contra a Monsanto e a manipulação genética dos alimentos em geral:
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Sex Jun 14, 2013 5:25 pm
"…Sir, I think you may have an exaggerated idea of the natural-ness of ‘traditional’ or ‘organic’ agriculture. Agriculture has always been unnatural. Our species began to depart from our natural hunter-gatherer lifestyle as recently as 10,000 years ago – too short to measure on the evolutionary timescale.
Wheat, be it ever so wholemeal and stoneground, is not a natural food for Homo sapiens. Nor is milk, except for children. Almost every morsel of our food is genetically modified – admittedly by artificial selection not artificial mutation, but the end result is the same. A wheat grain is a genetically modified grass seed, just as a pekinese is a genetically modified wolf. Playing God? We’ve been playing God for centuries!"
N. de Mensagens : 2054 Raça : Ent/Povo das Árvores Deus : Ares (Guerra/Heroísmo/Conquista)
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Sáb Jun 15, 2013 9:00 am
Bem, a minha opinião sobre isto é... Qual histeria? Há uns anos havia por aí manifestações, pedidos de referendo e o diabo a sete... Ultimamente não se tem ouvido falar nada disto... Acho que um debate que não existe não se classifica lá muito como histeria...
Relativamente ao assunto, não tenho opinião. Se não há provas de que a modificação genética é nefasta, carry on... Mas se houver, então convém ter precauções. Neste aspecto parece-me ser um bocado como a questão das radiações electromagnéticas. Como não sou entendido no assunto, deixo para quem o é.
EDIT: Ao ler o artigo do Skeptical Raptor que aqui deixaste, é interessante ver que se referem a uma carta com 10 anos... Lá está... Há tempos isto era assunto para debates acesos. Ultimamente...?
Seja como for, acho que a questão principal que sempre esteve em cima da mesa é esta: «Almost every morsel of our food is genetically modified – admittedly by artificial selection not artificial mutation, but the end result is the same» Aqui o Dawkins parte da premissa de que o resultado é o mesmo e nem põe isso em causa. Mas acho que é nisto que os opositores discordam e que a argumentação principal gravita à volta disto.
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Dom Jun 16, 2013 3:15 pm
Kraft durch Freude escreveu:
Bem, a minha opinião sobre isto é... Qual histeria? Há uns anos havia por aí manifestações, pedidos de referendo e o diabo a sete... Ultimamente não se tem ouvido falar nada disto... Acho que um debate que não existe não se classifica lá muito como histeria...
Eu tenho assistido a vários exemplos desta histeria, mas depende sempre dos meios a que estamos expostos. Os sítios por onde passamos (ou por onde não passamos) pela Internet e fora dela. E normalmente esses grupos usam sites como o "NaturalNews", "NaturalSociety", e outros do género, como "fontes de informação" (ou de desinformação). Este pessoal descreve-se como defensor do que é "natural" (cometem a falácia do apelo à natureza constantemente). Alguns desses juntam o útil ao agradável e misturam todo o tipo de "teorias da conspiração" (chemtrails, illuminati, new world order, e por aí fora). E claro, esses adoram tudo o que passa no "Prison Planet" / "Info Wars" do Alex Jones, e das alegações do David Icke.
Um dos ressurgimentos desta histeria deve-se a este estudo dos ratos, que entretanto é contestado quanto à sua confiabilidade devido às falhas metodológicas: http://www.forbes.com/sites/timworstall/2012/09/20/monsantos-gm-corn-and-cancer-in-rats-real-scientists-deeply-unimpressed-politics-not-science-perhaps/ http://www.guardian.co.uk/environment/2012/sep/28/study-gm-maize-cancer
Kraft durch Freude escreveu:
Relativamente ao assunto, não tenho opinião. Se não há provas de que a modificação genética é nefasta, carry on... Mas se houver, então convém ter precauções. Neste aspecto parece-me ser um bocado como a questão das radiações electromagnéticas. Como não sou entendido no assunto, deixo para quem o é.
Partilho a mesma postura em relação ao assunto. E mais: cada caso deve ser tratado individualmente, como afirma a Organização Mundial de Saúde:
World Health Organization escreveu:
Q8. Are GM foods safe?
Different GM organisms include different genes inserted in different ways. This means that individual GM foods and their safety should be assessed on a case-by-case basis and that it is not possible to make general statements on the safety of all GM foods.
GM foods currently available on the international market have passed risk assessments and are not likely to present risks for human health. In addition, no effects on human health have been shown as a result of the consumption of such foods by the general population in the countries where they have been approved. Continuous use of risk assessments based on the Codex principles and, where appropriate, including post market monitoring, should form the basis for evaluating the safety of GM foods.
EDIT: Ao ler o artigo do Skeptical Raptor que aqui deixaste, é interessante ver que se referem a uma carta com 10 anos... Lá está... Há tempos isto era assunto para debates acesos. Ultimamente...?
E continua a ser. Aliás, essa citação do Skeptical Raptor é de 2013 e refere a carta de há 15 anos atrás serve exactamente para mostrar que este assunto ainda se arrasta desde então. O Príncipe Charles (a quem a carta era destinada) continua com a mesma postura e é um dos exemplos de pessoas que estão convencidas que a manipulação genética tem de ser recusada e combatida a todo o custo.
Kraft durch Freude escreveu:
Seja como for, acho que a questão principal que sempre esteve em cima da mesa é esta: «Almost every morsel of our food is genetically modified – admittedly by artificial selection not artificial mutation, but the end result is the same» Aqui o Dawkins parte da premissa de que o resultado é o mesmo e nem põe isso em causa. Mas acho que é nisto que os opositores discordam e que a argumentação principal gravita à volta disto.
Os opositores fazem constantes alegações a favor da agricultura "tradicional", referindo a sua vantagem em ser "natural" (normalmente promovem a ideia da agricultura biológica), já para não falar nas queixas "não quero químicos na minha comida" (sim porque a água, por exemplo, não é um composto químico, right? Monóxido de dihidrogênio, esse composto químico terrível que também devia de ser banido ) . Mas na verdade nada do que é domesticado condiz com o que é encontrado naturalmente em estado selvagem, pois os seres humanos têm vindo a interferir com os genes, não por laboratório, mas sim por selecção com base nas características que se queriam promover. À primeira vista o milho não tem nada a ver com o que era em estado selvagem, e a banana também está bem diferente. É semelhante à transformação que sofreram os lobos até se tornarem nos cães que temos hoje, com todo o tipo de alterações ao nível genético promovidas pelos humanos. Na prática é de facto a mesma coisa: interferência nos genes por meio da intervenção do homem. Uma diferença é certa, contudo: as interferências da domesticação não eram testadas antes de servirem de alimentação (até porque não havia qualquer rigor nesse aspecto, nem estandardização e tecnologia apropriada), mas a manipulação em laboratório é testada e regulada por todo o tipo de entidades governamentais, comunitárias e científicas. Consulte-se por exemplo esta compilação: http://gmopundit.blogspot.pt/p/450-published-safety-assessments.html
Kraft durch Freude Herói/Heroína mitológic@
N. de Mensagens : 2054 Raça : Ent/Povo das Árvores Deus : Ares (Guerra/Heroísmo/Conquista)
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Seg Jun 17, 2013 9:30 pm
Averróis escreveu:
dihidrogênio
Lá está... Se andas à procura de sites na net onde falem disto... É normal que encontres sites que falem disto. Histeria seria se visses o assunto debatido em todo o lado, e te fosse enfiado pelos olhos abaixo em toda a parte, como se passava há uns anos atrás.
Nos últimos 2 parágrafos fugiste um bocado ao argumento de que eu falei, tal como o fez o autor do artigo do Raptor que citaste.
Atellus Guerreiro/Guerreira
N. de Mensagens : 38 Idade : 31 Local : Aeminium Elemento : Terra/Rocha Deus : Deméter (Terra/Natureza/Estações) Cor : Verde
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Ter Jun 18, 2013 3:09 am
Se faz mal, não sei, mas bem também duvido. Moro numa aldeia, aqui a agricultura ainda é a moda antiga, e digo que nunca vou trocar um bom fruto ou vegetal natural por uma coisa qualquer toda alterada que nem sei de onde vem. É que nem tem comparação. O Monsanto quer é ficar com o monopólio todo. Proibir o uso de sementes sem serem geneticamente alteradas? Mas isso cabe na cabeça de alguém? Isto é só para alimentar mais uns quantos chulos, para que é preciso isso? Aqui seja proibido ou não, as sementes serão sempre as dadas nos nossos cultivos. Nem dinheiro há as vezes para a água, quanto mais para comprar sementes infinitas.
Vocês acreditam mesmo que eles estão a fazer isso pelo bem?
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Ter Jun 18, 2013 5:37 am
Kraft durch Freude escreveu:
Averróis escreveu:
dihidrogênio
Kraft durch Freude escreveu:
Lá está... Se andas à procura de sites na net onde falem disto... É normal que encontres sites que falem disto. Histeria seria se visses o assunto debatido em todo o lado, e te fosse enfiado pelos olhos abaixo em toda a parte, como se passava há uns anos atrás.
1 - Eu não ando à procura de sites na net onde falam disto. Sou abordado por indivíduos que promovem o activismo anti-modificação genética dos alimentos em sites generalistas como as redes sociais sociais, fóruns e grupos de discussão, sites de tecnologia, sites com informação científica e amigos que vêm meter conversa sobre o assunto e que acabam por partilhar comigo e com várias outras pessoas esses artigos desses sites que mencionei, entre outros.
2 - Estás a confundir histeria com mass hysteria, quando na verdade a primeira não especifica a dimensão: Algo pode ser considerado histeria mesmo quando defendido por uma única pessoa. O histerismo não pressupõe obrigatoriamente uma popularidade (muito menos uma popularidade extrema do "por toda a parte"), por muito que a sua popularidade possa ajudar a estende-lo a mais pessoas. Eu não disse que isto está acontecer "em toda a parte", disse que existem focos de histeria populares - muito graças às redes sociais que hoje têm um peso que não tinham há 15 anos atrás - e dei a entender que não me admiraria que a maioria dos utilizadores deste forum já tivesse presenciado exemplos deste tipo de activismo. (Quem não se cruzou ainda com algum tipo de histeria actual sobre este assunto que levante o braço).
3 - É bom lembrar ainda: Debater pormenores da dimensão do movimento anti-modificações genéticas não faz parte do propósito deste tópico. Será no máximo uma curiosidade paralela. E mais: a dimensão de um movimento pode ser irrelevante quanto à veracidade das suas alegações.
Kraft durch Freude escreveu:
Nos últimos 2 parágrafos fugiste um bocado ao argumento de que eu falei, tal como o fez o autor do artigo do Raptor que citaste.
Não fugi ao argumento. Abordei-o directamente. É a mesma coisa na prática: interferência humana nos genes dos animais e plantas. Num caso não se procedeu a quaisquer testes de controlo e regulamentação da segurança alimentar, no outro é uma medida estandardizada a tomar antes de qualquer aprovação para consumo. A maior diferença está aí e na maior velocidade cronológica graças à capacidade de atalhar e obter uma maior precisão nas alterações induzidas. De resto a diferença em termos práticos não é tão substancial quanto querem fazer crer. Como é que é fugir ao argumento? O que é que seria não fugir ao argumento, segundo os teus critérios?
Atellus escreveu:
Se faz mal, não sei, mas bem também duvido. Moro numa aldeia, aqui a agricultura ainda é a moda antiga, e digo que nunca vou trocar um bom fruto ou vegetal natural por uma coisa qualquer toda alterada que nem sei de onde vem. É que nem tem comparação. O Monsanto quer é ficar com o monopólio todo. Proibir o uso de sementes sem serem geneticamente alteradas? Mas isso cabe na cabeça de alguém? Isto é só para alimentar mais uns quantos chulos, para que é preciso isso? Aqui seja proibido ou não, as sementes serão sempre as dadas nos nossos cultivos. Nem dinheiro há as vezes para a água, quanto mais para comprar sementes infinitas.
Vocês acreditam mesmo que eles estão a fazer isso pelo bem?
Atellus, dá uma olhada no segundo vídeo deste tópico. Os frutos e vegetais que comes da agricultura não são "naturais" (tal como os animais da quinta), pois têm vindo a ser modificados pelos seres humanos devido ao impacto da domesticação, a selecção artificial. É tal com o cão: não é um animal natural, pois foi artificialmente moldado pela interferência do homem, que provocou a derivação do lobo nas várias raças de cães existentes. O milho e a banana são alguns dos exemplos que já referi numa mensagem anterior.
E já agora: Não é verdade que se proíba o uso de sementes sem serem geneticamente modificadas, nem é verdade que a corporação Monsanto seja a única opção disponível (ou obrigatória) para adquirir produtos hortícolas (sejam eles modificados geneticamente ou não). Em relação à tua pergunta: "para que é que é preciso isso?", dá uma olhada no primeiro vídeo e à importância e necessidade da Revolução Verde.
Pressuponho então que já tiveste contacto com o activismo anti-monsanto e anti-modificações genéticas? Partilha aqui um bocado sobre a história e cronologia desse contacto que tiveste, pois aparentemente o Kraft durch Freude não está a par da actualidade a respeito desses movimentos e de que forma eles operam e se expandem.
Atellus Guerreiro/Guerreira
N. de Mensagens : 38 Idade : 31 Local : Aeminium Elemento : Terra/Rocha Deus : Deméter (Terra/Natureza/Estações) Cor : Verde
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Ter Jun 18, 2013 3:49 pm
Vou então esses vídeos que publicas-te. Ainda não vi, vou tentar ver hoje á noite. Mas volto a falar quando estiver mais dentro do assunto.
Sei que não é o único, mas é para isso que eles lutam. Para cada vez os ricos terem mais, e os pobres cada vez terem menos, basta olhar à nossa volta.
Há muitos anos atrás, a quando da revolução industrial também se dizia que se ia acabar com a fome no mundo. Vê-se isso perfeitamente.
https://www.youtube.com/watch?v=D6-YkHO3kPY
Fundador (ex-Váli) Deus(a) do Sol (administração)
N. de Mensagens : 2041 Idade : 35 Local : Lisboa Raça : Ent/Povo das Árvores Elemento : Madeira Deus : Poseidon (Mar/Ideologia/Sonho) Cor : Verde
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Ter Jun 18, 2013 3:59 pm
Sem recorrer ao apelo da natureza, a modificação genética pode de facto ser perigosa no sentido em que não se conhece alguns produtos. Depende do tipo de intervenção. Por exemplo (sei que estou a incorrer numa comparação falaciosa mas acho que faz sentido) quando descobriram a colonização também defendiam que era totalmente saudável, porque simplesmente não viam razões para não o ser. Hoje é sabido que a ovelha Doly envelheceu mais depressa que o normal das ovelhas. Acho que a ciência ainda não sabe porquê mas especula-se que a idade da mãe tenha sido transmitida para o seu clone.
Não se sabe ainda as consequências da modificação genética e não se pode dizer que é seguro só "porque não vemos razões para ser perigoso" porque isso é assumir que se sabe tudo quando na volta não é assim. São precisos testes a longo prazo para provar isso.
A propósito o argumento do apelo à natureza é um argumento que tem uma certa lógica, já que a natureza é, na sua organização, lógica.
Em nota de curiosidade, já pensaram porque é que existe fruta com melhor aspecto do que outra? É engraçado mas do ponto de vista evolutivo isso deve ter um porquê apesar de ser especulativo pensar sobre isso. Talvez seja uma estratégia de sobrevivência a árvore dar frutos que podem ser comestíveis e outros podres ou feios que têm uma função mais reprodutiva. Outro sim é que a fruta mais pequena é mais doce por ter menos agua.
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Qua Jun 19, 2013 2:00 pm
Váli escreveu:
Sem recorrer ao apelo da natureza, a modificação genética pode de facto ser perigosa no sentido em que não se conhece alguns produtos. Depende do tipo de intervenção. Por exemplo (sei que estou a incorrer numa comparação falaciosa mas acho que faz sentido) quando descobriram a colonização também defendiam que era totalmente saudável, porque simplesmente não viam razões para não o ser. Hoje é sabido que a ovelha Doly envelheceu mais depressa que o normal das ovelhas. Acho que a ciência ainda não sabe porquê mas especula-se que a idade da mãe tenha sido transmitida para o seu clone.
Colonização não. Queres dizer clonagem. E nenhum cientista diz, ou não deve dizer, que algo é "totalmente saudável", ou fazer apelos a conhecimentos absolutos a priori. Os conhecimentos dependem sempre do recurso à melhor explicação e demonstração disponível e possível na altura. Há sempre uma necessidade de colocar à prova qualquer ideia testável, daí a ciência ser auto-correctiva.
E não há indícios de que a ovelha Dolly envelheceu mais rápido. Colocou-se foi essa possibilidade devido ao facto de ter sido clonada a partir de material genético de uma ovelha já adulta, que por isso mesmo tinha telómeros mais curtos - já que eles vão reduzindo de tamanho conforme a idade: "Cada vez que a célula se divide, os telómeros são ligeiramente encurtados. Como estes não se regeneram, chega a um ponto em que não permitem mais a correcta replicação dos cromossomas e a célula perde completa ou parcialmente a sua capacidade de divisão. O encurtamento dos telómeros também pode eliminar certos genes que são indispensáveis à sobrevivência da célula ou silenciar genes próximos. Como o processo de renovação celular não tolera a morte das células antes da divisão correcta das mesmas, o organismo tende a morrer num curto prazo de tempo no momento em que seus telómeros se esgotam." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Tel%C3%B4mero)
"It doesn't necessarily follow that she will age prematurely because this link between the telomeres and ageing is not proven - it's just an interesting theory.
"In fact, if sheep like Dolly and other mammals made by this [cloning] technique are continually shown to be perfectly healthy and not age prematurely, that would just prove that the whole link between the telomeres and ageing is an unreliable one and not worth worrying about."
"Once a person is older than 60, their risk of death doubles with every eight years of age. So a 68-year-old has twice the chance of dying within a year compared with a 60-year-old. Cawthon's study found that differences in telomere length accounted for only 4 percent of that difference. And while intuition tells us older people have a higher risk of death, only another 6 percent is due purely to chronological age. When telomere length, chronological age and gender are combined (women live longer than men), those factors account for 37 percent of the variation in the risk of dying over age 60. (...)" http://learn.genetics.utah.edu/content/begin/traits/telomeres/
Tanto quanto deu para determinar, a Dolly poderá muito bem ter envelhecido a velocidades normais. Mas só viveu 6 anos porque morreu de cancro pulmonar (Jaagsiekte) que é comum e transmissível nas ovelhas. E portanto nada indica que tenha algo a ver com a clonagem ou com envelhecimento. A Dolly não foi a única ovelha a ser clonada. Segundo o Prof Campbell da Universidade de Nottingham, já várias ovelhas clonadas tal como a Dolly têm vivido os 10 a 12 anos normais que as ovelhas costumam viver.
"In 2003, a decision to "put down" six-year-old Dolly was made after a veterinary examination showed she had a progressive lung disease. The long-term health of clones is still debated by scientists but there is no proof that Dolly died because she was a clone. Professor Campbell said: "Dolly died of a viral lung disease which is very common in sheep which are housed and share water. "It causes lots of mucus production which then passes into water and gets drunk by the next sheep so [gets passed on]." "Many, many clones [since Dolly] have lived normal lives and lived to good ages of 10 or 11 years old or more," he added." http://news.bbc.co.uk/local/nottingham/hi/people_and_places/newsid_9217000/9217340.stm
Clonagem de ratos com esperança média de vida normal igual à dos ratos não clonados:
"Using the technique that created Dolly the sheep, researchers from the RIKEN Center for Developmental Biology in Kobe, Japan have identified a way to produce healthy mouse clones that live a normal lifespan and can be sequentially cloned indefinitely." http://www.sciencedaily.com/releases/2013/03/130307122958.htm
Váli escreveu:
Não se sabe ainda as consequências da modificação genética e não se pode dizer que é seguro só "porque não vemos razões para ser perigoso" porque isso é assumir que se sabe tudo quando na volta não é assim. São precisos testes a longo prazo para provar isso.
A questão é que existem testes de longo prazo (multigeracionais, que analisam até às 5 gerações). Aqui tens por exemplo: "We examined 12 long-term studies (of more than 90 days, up to 2 years in duration) and 12 multigenerational studies (from 2 to 5 generations)." http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278691511006399
O uso de modificações genéticas dos alimentos é porventura um dos objectos de estudo mais bem e intensamente estudados no que toca à análise de riscos alimentares e ecológicos. Até ao momento não existem quaisquer indícios de riscos para a saúde, comparativamente aos riscos para a saúde presentes nos alimentos não-modificados. Isto em centenas e centenas de testes levados a cabo por diversas entidades governamentais e comunitárias (como a União Europeia), entre outras entidades científicas.
Por exemplo:
EPA - U.S. Environmental Protection Agency; USDA - U.S. Department of Agriculture; FDA - U.S. Food and Drug Administration; IFPRI - International Food Policy Research Institude; FWS - U.S. Fish and Wildlife Service; Comissão Europeia; Biochemical Society; Royal Society; Food and Chemical Toxicology Journal; Food Safety Authority (UK); Organização Mundial de Saúde; Government Science Review Panel (UK); FSANZ - Food Standards Australia New Zealand; FDL - The Food and Drug Law Institute; CRIIGEN - Comité de Recherche et d'Information Indépendantes sur le génie GENétique; Journal of Animal Science; British Poultry Science; Society of Nutrition Physiology; International Symposium on Genetically Modified Crops and Co-products as Feeds for Livestock; FEMS Microbiology Letters; Animal Feed Science and Technology; Journal of Biotechnology; Molecular Nutrition and Food Research; Journal of Applied Poultry Research: Journal of Nutrition: Archives of Animal Nutrition; Livestock Production Science; Journal of Agricultural and Food Chemistry; Plant Biotechnology Journal; Research in Veterinary Science Journal; Journal of Dairy Science; World Mycotoxin Journal; International Archives of Allergy and Immunology; Journal of Allergy and Clinical Immunology; VDLUFA Conference; BMC Biotechnology; Fundamental and Applied Toxicology; BioThailand; Wei Sheng Yan Jiu - Journal of Hygiene Research; Worlds Poultry Science Journal; Journal of Food Protection; European Association for Animal Production; Pest Management Science; Plant Molecular Biology; Proteomics; Regulatory Toxicology and Pharmacology FAL - Federal Agricultural Research Centre Braunschweig; Ecotoxicology and Environmental Safety; Mycopathologia; Journal of Proteome Research Journal of Experimental Botany; Environmental Health Perspectives; EFSA Journal - European Food Safety Authority; European Food Research and Technology;
E a lista continua, e continua, e continua. É longuíssima. Pode ser consultada aqui: http://gmopundit.blogspot.pt/p/450-published-safety-assessments.html
E este assunto já é estudado há várias décadas, mais de meio século.
O controlo e o rigor, a regulação da actividade é das mais apertadas. Não é assumir que se sabe tudo. É assumir que tanto quanto se pode determinar até ao momento, não há razões para alarme. Até ao momento tudo é consistente com uma suficiente segurança alimentar. Tendo em conta todas essas avaliações, agora faz sentido que se continue a testar e a avaliar. E só suspender em caso de justificação para tal. Porque se partirmos do princípio que todos os estudos que se têm feito estão incorrectos, então nunca avançaríamos com nada e numa lógica semelhante provavelmente nem devíamos sair de casa, não vá algum carro atropelar-nos só porque não temos a certeza que isso jamais acontecerá. Right?
Váli escreveu:
A propósito o argumento do apelo à natureza é um argumento que tem uma certa lógica, já que a natureza é, na sua organização, lógica.
Só tem lógica se partires da premissa que a natureza quer o melhor para a humanidade e que tudo o que é mais natural é benéfico para nós. A natureza não tem emoções nem intenções, e está tão preocupada connosco quanto uma rocha (aliás, a rocha faz parte da própria natureza). O mesmo tipo de rocha que pode ficar estática em algumas circunstâncias, e que noutras pode rebolar por um penhasco num deslizamento de terras e matar alguém que tenha o azar de estar a passar por lá nesse momento. A natureza é neutra, indiferente, não nos é absolutamente positiva nem absolutamente negativa. Algo não é bom ou mau por ser natural. Do ponto de vista humano, algo é bom ou mau dependendo do seu impacto e consequência na sociedade humana (ou em qualquer outra que esteja em análise). Ela tanto pode servir de sustento à nossa habitabilidade, como pode constituir uma adversidade. Ingerir cianeto não é bom nem preferível para nós só porque é "mais natural" em comparação com uma banana do supermercado (que não é natural, não ocorre na natureza e está dependente do ser humano para se reproduzir e cultivar). Portanto é uma falsa dicotomia achar que o que é natural tem de ser bom para nós, e o que é artificial tem de ser mau.
Váli escreveu:
Em nota de curiosidade, já pensaram porque é que existe fruta com melhor aspecto do que outra? É engraçado mas do ponto de vista evolutivo isso deve ter um porquê apesar de ser especulativo pensar sobre isso. Talvez seja uma estratégia de sobrevivência a árvore dar frutos que podem ser comestíveis e outros podres ou feios que têm uma função mais reprodutiva. Outro sim é que a fruta mais pequena é mais doce por ter menos agua.
Bem, em relação à fruta não sei, pois certos animais, como o cão que eu tive, aparentam ligar bastante menos ao aspecto visual de duas frutas semelhantes, igualmente maduras, só porque uma parece menos perfeitinha. Seria boa ideia estudar se os bonobos, os primatas geneticamente mais próximos dos humanos, fazem discriminação de frutas com base em critérios de "beleza" ou não. Mas uma coisa é certa: Muitos conceitos de repulsividade de alimentos são culturalmente adquiridos. Há sociedades onde os caracóis são apreciados (como a nossa) e outras onde há uma repulsa em ponderar sequer a ingestão desse gastrópode. Há sociedades onde uma alimentação que inclui insectos na ementa é normal, trivial, e para outras - como a nossa - é praticamente impensável. Portanto a questão da repulsividade muitas vezes pode ser cultural. Em alguns casos é possível que trabalhem ambas em conjunto: uma componente social/cultural e outra intrínseca (impulso, instinto).
Outra coisa: Diferentes indivíduos podem reagir de diferentes formas a diferentes alimentos. Há cães que adoram certos alimentos que outros cães detestam. Nos humanos então nem se fala.
Em relação a uma fruta ser mais doce por ter menos água ao ser mais pequena... Não me parece que pinte necessariamente a realidade, mas ok. Tens fontes para isso? Que eu saiba o gosto adocicado, agradável, depende da quantidade de carbohidratos, mais do que das quantidades de água ou do tamanho do fruto. Uma uva consegue ser menos doce que um melão.
Última edição por Averróis em Qua Jun 19, 2013 5:09 pm, editado 1 vez(es)
Fundador (ex-Váli) Deus(a) do Sol (administração)
N. de Mensagens : 2041 Idade : 35 Local : Lisboa Raça : Ent/Povo das Árvores Elemento : Madeira Deus : Poseidon (Mar/Ideologia/Sonho) Cor : Verde
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Qua Jun 19, 2013 4:06 pm
é especulativo sim, mas a ideia é gira xP tem uma certa lógica pensar que a fruta se diferencia para que as sementes melhores estejam em fruta menos acessível ou mais feia.
Voltando a argumento da natureza (de resto concordo com tudo o que disseste). A natureza não faz polaridade, certo, nem foi bem por ai que eu quis entrar, mas é regida por leis lógicas (leis fisicas, quimicas, biologicas e sabe-se lá que mais xP), por isso MUITOS (não todos) dos argumentos baseados no apelo à natureza tem de ser considerados dignos de investigação.
Ceinwyn Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3936 Idade : 38 Raça : Gárgula Elemento : Terra/Rocha Deus : Ares (Guerra/Heroísmo/Conquista) Cor : Vermelho
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Qua Jun 19, 2013 8:22 pm
Váli escreveu:
é especulativo sim, mas a ideia é gira xP tem uma certa lógica pensar que a fruta se diferencia para que as sementes melhores estejam em fruta menos acessível ou mais feia.
Não, porque é benéfico para a fruta ser comida. O que podias ter era o contrário. Se bem que me cheira que isso da fruta bonita só pega em quem não percebe nada de fruta, o que nós achamos que é fruta bonita não é geralmente a de melhor qualidade.
Fundador (ex-Váli) Deus(a) do Sol (administração)
N. de Mensagens : 2041 Idade : 35 Local : Lisboa Raça : Ent/Povo das Árvores Elemento : Madeira Deus : Poseidon (Mar/Ideologia/Sonho) Cor : Verde
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Qui Jun 20, 2013 4:48 pm
Então a árvore desenvolveu uma maneira de nos enganar xP
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Ter Jul 23, 2013 6:53 pm
De altíssima relevância para o tópico, aborda os alimentos geneticamente modificados e a constante falácia do apelo "ao natural" da nossa agricultura.
Citação :
Have you ever seen the real banana? Do you know how strawberries come about? It might come as a shock to you, but what you regard as 'natural food' might not be natural at all, and perhaps genetically modified (GM) food is not as bad as you think. At TEDxUQ, Jimmy Botella busted some of the fallacies we have regarding the food we eat every day, and gave us a sneak peak of what GM food actually is, and where it sits in our current society.
Jimmy is the Professor of Plant Biotechnology, School of Agriculture and Food Sciences at the University of Queensland. He founded the Plant Genetic Engineering Laboratory specialising in the fields of tropical and subtropical agricultural biotechnology. Jimmy has eleven international patents in the field of Plant Biotechnology and is a founding member of two biotechnology companies (Coridon Ltd. and Origo Biotech).
Ceinwyn Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3936 Idade : 38 Raça : Gárgula Elemento : Terra/Rocha Deus : Ares (Guerra/Heroísmo/Conquista) Cor : Vermelho
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Ter Jul 23, 2013 11:39 pm
^ Muito interessante.
Kraft durch Freude Herói/Heroína mitológic@
N. de Mensagens : 2054 Raça : Ent/Povo das Árvores Deus : Ares (Guerra/Heroísmo/Conquista)
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Dom Dez 22, 2013 8:32 pm
Atellus escreveu:
Vou então esses vídeos que publicas-te. Ainda não vi, vou tentar ver hoje á noite. Mas volto a falar quando estiver mais dentro do assunto.
Sei que não é o único, mas é para isso que eles lutam. Para cada vez os ricos terem mais, e os pobres cada vez terem menos, basta olhar à nossa volta.
Há muitos anos atrás, a quando da revolução industrial também se dizia que se ia acabar com a fome no mundo. Vê-se isso perfeitamente.
https://www.youtube.com/watch?v=D6-YkHO3kPY
Acabei de ver há pouco o vídeo ali apontado pelo Atellus.
Infelizmente, acaba por apresentar muitos dos problemas que vejo na argumentação do "outro lado": muitas acusações vagas, mas pouca informação em concreto.
Por outro lado, parece ser uma investigação baseada em "resultados do Google", e no nº de resultados que aparecem para as pesquisas que a "jornalista" faz. Ora, tendo em conta a sua filter bubble, será claro porque é que ela só encontra aquele tipo de resultados quando procura coisas sobre a Monsanto & friends.
Infelizmente, não parece uma fonte de informação minimamente isenta. Continuo a não conseguir formar uma opinião, dadas a minha falta de tempo para investigar o assunto a fundo, e a fraca qualidade dos argumentos que vejo de um lado e do outro.
Última edição por Kraft durch Freude em Seg Dez 23, 2013 8:22 pm, editado 1 vez(es)
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Seg Dez 23, 2013 8:19 am
Ainda bem que me lembras deste tópico, Kraft.
Notícia que li recentemente:
O co-fundador do Greenpeace, Patrick Moore, manifesta-se agora contra o próprio Greenpeace, devido à luta que a organização activista tem travado contra os transgénicos, em especial o Golden Rice ("arroz dourado", que é um arroz enriquecido que é geneticamente modificado com o objectivo de ajudar minimizar as deficiências nutricionais de pessoas em países do Terceiro Mundo, nomeadamente para produzir vitamina A, que escasseia nas dietas dessas pessoas, o que leva frequentemente à fragilidade do sistema imunológico, cegueira e eventualmente a morte).
Esta luta do Greenpeace é agora rotulada de "imoral" e "criminosa" por parte do seu co-fundador, que sente que a organização está a trair os seus próprios princípios humanitários ao pronunciar-se a priori contra o Golden Rice.
Citação :
Greenpeace founder now protesting their stance on Golden Rice
Greenpeace is committing “crimes against humanity” by attempting to block the distribution of genetically-modified Golden Rice which could prevent the deaths of millions of children, said a founder of the environmental organization. Ecologist Patrick Moore, with Allow Golden Rice Now, said millions of children who consume a starch-rich rice diet die every year from a lack of beta carotene and vitamin A. Golden Rice, a genetically-modified food, contains the nutritional value to save millions of lives because 70% of the world’s poor depend on rice, he said.
“I left Greenpeace in 1986 when they abandoned logical science,” Moore said at a downtown Toronto protest outside Greenpeace’s headquarters. “Greenpeace is back in the dark ages (opposing modified food). They are targeting Golden Rice even though it targets a human need.”
Greenpeace has concerns that Golden Rice might create health risks, said Yossi Candan, campaign director for Greenpeace Canada. “The fact that we object to the introduction of this product is because it is not well proven that it will help. The fact is Golden Rice is supposed to solve the vitamin A problem and that isn’t clear,” Candan said. “The long-term solution is solving the poverty issues with eco-farming ... work with these people about home farming and not just for vitamin A.” Candan added there are also worries Golden Rice could cross contaminate existing species. “Cross breeding (pollination) will happen and it could be a catastrophe,” Cadan said. Rice rarely cross breeds, Moore countered. “Pollen from Golden Rice may get out but what possible harm could that do?” he said. Moore added if Greenpeace wants to block the production of genetically-modified foods, the group should provide the people in need with vitamins.
Some organizations which favour the introduction Golden Rice include the Bill and Melinda Gates Foundation, Helen Keller International, the Rockefeller Foundation and the U.S. Agency for International Development.
Artigo da wikipedia sobre o Golden Rice: http://en.wikipedia.org/wiki/Golden_rice
Vídeo sobre o Golden Rice:
Última edição por Averróis em Seg Dez 23, 2013 8:46 am, editado 1 vez(es)
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Seg Dez 23, 2013 8:45 am
E outra notícia sobre o desenvolvimento do caso do estudo dos ratinhos com cancro:
O polémico estudo dos ratinhos que alegadamente desenvolveram cancro "por causa da sua alimentação com milho transgénico" foi agora considerado inválido e retirado do journal Food and Chemical Toxicology, devido às suas falhas metodológicas e "má ciência".
As duas falhas metodológicas mais graves são: 1) Usaram-se ratos Sprague-Dawley, que são uma raça de ratos com uma grande tendência genética para desenvolver cancros, independentemente da alimentação fornecida.
2) A pequena quantidade de ratos usados no teste, insuficiente para testar com a devida seriedade.
Citação :
Study linking GM maize to rat tumours is retracted Publisher withdraws paper despite authors' objections, citing weak evidence.
Bowing to scientists' near-universal scorn, the journal Food and Chemical Toxicology today fulfilled its threat to retract a controversial paper claiming that a genetically modified (GM) maize causes serious disease in rats, after the authors refused to withdraw it.
The paper, from a research group led by Gilles-Eric Séralini, a molecular biologist at the University of Caen, France, and published in 20121, showed “no evidence of fraud or intentional misrepresentation of the data”, said a statement from Elsevier, which publishes the journal. But the small number and type of animals used in the study mean that “no definitive conclusions can be reached”. The known high incidence of tumours in the Sprague–Dawley strain of rat ”cannot be excluded as the cause of the higher mortality and incidence observed in the treated groups”, it added.
Today’s move came as no surprise. Earlier this month, the journal’s editor-in-chief Wallace Hayes threatened retraction if Séralini refused to withdraw the paper. Elsevier retracted the paper shortly after a press conference in Brussels this morning, in which Séralini protested his innocence. He and his team stand by their results, and allege that the retraction derives from the journal's editorial appointment of biologist Richard Goodman, who previously worked for biotechnology giant Monsanto for seven years.
“The magazine reviewed our paper more than any other,” says co-author and physician Joël Spiroux de Vendômois, who is also president of the Paris-based Committee for Research and Independent Information on Genetic Engineering (CRIIGEN), which collaborated in the study. The retraction is “a public-health scandal”, he says.
Goodman however denies any involvement in the decision to retract the paper. "Food and Chemical Toxicology asked me to become an associate editor in January 2013 because of my extensive experience in the area, and after I complained about the Séralini study,” he says. “I am paid a small honorarium for handling manuscripts about biotechnology on a part-time basis, after hours. But I did not review the data in the Séralini study, nor did I have anything to do with the determination that the paper should be withdrawn from or retained by the journal."
The study found that rats fed for two years with Monsanto’s glyphosate-resistant NK603 maize (corn) developed many more tumours and died earlier than controls. It also found that the rats developed tumours when glyphosate (Roundup), the herbicide used with GM maize, was added to their drinking water. (See 'Rat study sparks GM furore').
At the 28 November press conference, Corinne Lepage, a Member of the European Parliament and former French environment minister, said that Séralini’s paper asked “good questions about the long-term toxicity of GMOs [GM organisms] and the Roundup herbicide”. Retraction of the paper “will not make these questions disappear”, added Lepage, who is also a co-founder of CRIIGEN.
Alleged conflicts of interest are at the centre of the latest round of controversy. Lepage called for the resignation of Anne Glover, who was appointed chief scientific adviser to the European Commission two years ago and whom Lepage says is an advocate of GMOs. Since then, Lepage noted, the commission has proposed, for the first time since 1996, to authorize cultivation of GM maize in Europe. Conflicts of interest with the European Food Safety Authority (EFSA) in Parma, Italy, which is responsible for assessing the risks of GMOs, “remain numerous”, she added.
The paper’s retraction was the latest in a series of setbacks for Séralini and his group. The publication of his team's study was greeted by a storm of protest from scientists, and both the EFSA and Germany’s Federal Institute for Risk Assessment In Berlin slammed the paper for providing inadequate data to support its conclusions.
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Seg Dez 23, 2013 8:57 am
Em relação às questão das sementes e dos supostos planos malvados da Monsanto em conjunto com a união Europeia:
Citação :
A lei das sementes não é o que pintam. A maior parte do que dizem sobre ela é mito. Existem "leis de sementes" em todos os países desde "sempre". Basicamente o que se está a fazer é uma unificação da legislação a nível europeu. Por isso é que o texto da lei já vem sendo discutido há vários anos e já passou por diversas alterações.
Ao contrário do que dizem, nem as espécies existentes na natureza vão ser patenteadas (não podem ser, ponto final), nem os pequenos agricultores vão sofrer consequências. A lei regula a produção em grande escala, aquela para distribuição no mercado interno e no mercado externo. Mas essas regulação já existem, são é diferentes nos diferentes países da Europa. As sementes "não-modificadas" (termo erróneo, não há sementes não modificadas) dos pequenos agricultores não vão ser banidas.
Consultem-se as propostas para unificação da legislação europeia em matéria de sementes: http://ec.europa.eu/food/plant/plant_propagation_material/review_eu_rules/index_en.htm
Basicamente segue-se o mesmo princípio que se aplica à regulamentação imposta a qualquer tecnologia. Um electrodoméstico, por exemplo, tem de seguir normas comunitárias que a asseguram a conformidade com os padrões exigidos na União Europeia (um deles, para dar um exemplo, é a garantia obrigatória de 2 anos que o fabricante tem de oferecer ao cliente).
Kraft durch Freude Herói/Heroína mitológic@
N. de Mensagens : 2054 Raça : Ent/Povo das Árvores Deus : Ares (Guerra/Heroísmo/Conquista)
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Seg Dez 23, 2013 8:22 pm
A questão dos ratos parece-me um bocado pateta. Parem de chorar e repitam o estudo com 100x mais ratos, de outra espécie menos sujeita a cancros. Siga para adiante.
Quanto à questão das sementes, e do uso de sementes "não-modificadas": segundo o vídeo que o Atellus deixou, o problema para os pequenos produtores seria que com a introdução das sementes transgénicas numa região, as "não-modificadas" ficam muito mais sujeitas a ser contaminadas. Mais tarde ou mais cedo, todas as sementes na região podem passar a ter os genes "patenteados", e os pequenos produtores ficam sujeitos a processos legais sem que tenham feito nada de errado.
Estás mesmo à espera que alguém vá ler centenas de páginas de legislação sobre o assunto? É que o problema é mesmo esse: para quem não está dentro do assunto (i.e.: não leu centenas de páginas e não vive "dentro do meio"), é muito difícil perceber de que lado está a razão e quais os argumentos (sérios) de ambos os lados.
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Seg Dez 23, 2013 10:44 pm
Kraft durch Freude escreveu:
A questão dos ratos parece-me um bocado pateta. Parem de chorar e repitam o estudo com 100x mais ratos, de outra espécie menos sujeita a cancros. Siga para adiante.
Como já citei anteriormente, há vários estudos (incluíndo estudos multi-geracionais, ate 5 gerações) que já têm sido realizados sobre vários tipos de alimentos geneticamente modificados. Nenhum deles apontou para um aumento de problemas de saúde face às variantes dos alimentos que não sejam geneticamente modificados em laboratório. A questão dos alimentos geneticamente modificados tem sido, porventura, a tecnologia alimentar mais rigorosamente testada até ao momento.
Pessoalmente também sou a favor de testes e mais testes, de forma intensiva.
É relevante afirmar ainda que este (agora retraído) estudo de Gilles-Eric Séralini de 2012 é por si só uma suposta "repetição" ou "reapreciação" (diminuída no número de ratos) de um estudo da Monsanto em 2002 e outro estudo de 2004 já com análise à adição de Roundup que nessa altura tinha determinado que o milho geneticamente modificado apresentava-se tão seguro quanto o milho não-transgénico usado no grupo de controlo.
É curioso referir-se ainda que, ironicamente, os ratos do estudo de Gilles-Eric Séralini que se alimentaram exclusivamente com milho geneticamente modificado sobreviveram por mais tempo em média do que os ratos que foram alimentados com o milho não-transgénico (seria de esperar que o milho geneticamente modificado, se fosse um problema, seria escalável conforme a dose ingerida, o que não se verificou), o que mais uma vez revela na maior das ironias o problema de ter uma baixa quantidade de ratos em cada grupo (20 ratos por grupo, 10 de cada sexo), quando deveria ter mais que isso, sendo que 65 ratos por cada grupo é agora apontado em teoria como o número ideal em vários dos estudos carcinogénicos em ratos.
Outra questão que não tem sido frisada o suficiente: no estudo parte das alegadas culpas são apontadas ao herbicida Roundup. Ora um herbicida não é o alimento modificado em si. É um produto adicional usado à posteriori para evitar as pragas de ervas daninhas, tal como um insecticida é usado para controlar pragas de insectos e um fungicida é usado para controlar problemas com fungos. Acusar o roundup não é o mesmo que acusar o milho geneticamente modificado (ou os alimentos geneticamente modificados em geral).
Já agora este artigo resume de forma mais sucinta ainda os problemas que existem no estudo do Gilles-Eric Séralini e lista numerosas observações e objecções de vários cientistas sobre a forma como o estudo foi conduzido: http://skeptico.blogs.com/skeptico/2013/06/the-seralini-rule-gmo-bogus-study.html
Kraft durch Freude escreveu:
Quanto à questão das sementes, e do uso de sementes "não-modificadas": segundo o vídeo que o Atellus deixou, o problema para os pequenos produtores seria que com a introdução das sementes transgénicas numa região, as "não-modificadas" ficam muito mais sujeitas a ser contaminadas. Mais tarde ou mais cedo, todas as sementes na região podem passar a ter os genes "patenteados", e os pequenos produtores ficam sujeitos a processos legais sem que tenham feito nada de errado.
A resposta a essa alegação está aqui: http://www.monsanto.com/newsviews/Pages/gm-seed-accidentally-in-farmers-fields.aspx
E alem disso seria absurdo pensar até num total "take-over" por parte de plantas geneticamente modificadas, como se de repente desaparecessem acidentalmente as outras espécies todas do nada (quando na verdade elas têm sempre de voltar a ser plantadas novamente para cada nova colheita, já que as sementes - arroz, milho, etc - vão para consumo humano e animal, a reprodução normal das plantas é largamente afectada e limitada pela colheita, vão para o prato em vez de seguirem o seu ciclo reprodutivo normal). Não é impossível uma eventual semente geneticamente modificada ir parar a um campo de outras sementes, mas isso não fornece qualquer tipo de legitimidade legal à Monsanto para processar um agricultor, e tal coisa não ocorreu até ao momento, nas 5 décadas de uso de transgénicos. O que ocorreu foi uma burla do agricultor Percy Schmeiser, que violou os termos do contrato (ao ter guardado as sementes e voltado a usá-las mais tarde, o que não é permitido no contracto que assinou com a Monsanto) e depois usou a desculpa de que o seu campo tinha sido "todo contaminado" na colheita seguinte - coisa que não ficou minimamente provada em tribunal.
Kraft durch Freude escreveu:
Estás mesmo à espera que alguém vá ler centenas de páginas de legislação sobre o assunto? É que o problema é mesmo esse: para quem não está dentro do assunto (i.e.: não leu centenas de páginas e não vive "dentro do meio"), é muito difícil perceber de que lado está a razão e quais os argumentos (sérios) de ambos os lados.
Obviamente que pode ser enfadonho. No entanto se o objectivo é fazer uma crítica válida, seria boa ideia que quem criticasse soubesse do que realmente se propõe antes de dizer que é contra algo que no fundo nem sequer está a ser proposto.
Última edição por Averróis em Ter Dez 24, 2013 12:55 am, editado 3 vez(es)
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Ter Dez 24, 2013 12:40 am
Já agora a respeito da "idealmente natural, mais saborosa e saudável" agricultura biológica:
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Histeria contra os alimentos geneticamente modificados. Sex Jan 03, 2014 10:32 am
Mais que relevante para o tópico:
Citação :
Há precisamente 1 ano atrás, a 3 de Janeiro de 2013, Mark Lynas deu uma importante palestra na Conferência de Agricultura de Oxford onde confessou a sua mudança de paradigma relativamente ao cultivo de organismos geneticamente modificados (OGMs). Estamos a falar de um ambientalista que participou do eclodir do movimento anti-OGM nos anos 1990, mas também de um escritor e jornalista com importantes contribuições na temática das Alterações Climáticas. Foi precisamente este último tema que lhe mostrou a necessidade de aprofundar o conhecimento científico mais actual e por conseguinte a aprendizagem que adveio desse estudo revelou como estava equivocado relativamente a outros assuntos como o caso da engenharia genética. Essa conversão tardia foi então anunciada nesta palestra, abrindo com um 'mea culpa' pelo seu activismo do passado. Para mim este acto estabelece um marco naquilo que seria desejavelmente a nova face do ambientalismo moderno: um activismo informado, sem preconceitos e capaz de se corrigir. Veremos o que a História nos reserva.
Palestra de Mark Lynas na Conferência de Agricultura de Oxford 2013
Aqui fica a tradução da palestra em Português:
Spoiler:
Quero começar com alguns pedidos de desculpa. Para que conste, aqui e antecipadamente, peço desculpa por ter passado vários anos deitando abaixo cultivos de organismos geneticamente modificados [OGM]. Lamento também ter ajudado a iniciar o movimento anti-OGM em meados dos anos 1990, e tendo-me assim empenhado em demonizar uma importante opção tecnológica que pode ser usada para beneficiar o meio ambiente.
Como ambientalista, e alguém que acredita que todos neste mundo temos direito a uma dieta saudável e nutritiva de sua escolha, eu não poderia ter optado por um caminho mais contra-produtivo. Lamento-o agora completamente.
Imagino que vocês se estejam a perguntar: o que aconteceu entre 1995 e agora que me fez mudar não só o que penso, mas também vir aqui admitir isso? Bem, a resposta é bastante simples: Eu descobri a ciência, e, no processo, espero me ter tornado um melhor ambientalista.
Quando ouvi falar pela primeira vez na soja GM da Monsanto eu sabia exactamente o que pensava. Eis uma grande corporação americana com um histórico desagradável colocando algo novo e experimental na nossa alimentação sem nos dizer. Misturar genes entre espécies parecia ser tão anti-natural quanto se possa imaginar — eis a humanidade a adquirir demasiado poder tecnológico; algo estava condenado a correr horrivelmente mal. Estes genes se espalhariam como uma espécie de poluição viva. Era uma fonte de pesadelos.
Esses temores espalharam-se como fogo, e dentro de poucos anos, os OGM foram essencialmente proibidos na Europa, e as nossas preocupações foram exportadas por ONGs como a Greenpeace e Amigos da Terra para a África, a Índia e o resto da Ásia, onde os OGM ainda hoje são proibidos. Esta foi a campanha mais bem sucedida na qual eu já estive envolvido.
Este também foi explicitamente um movimento anti-ciência. Nós abusámos daquela imagética sobre cientistas nos seus laboratórios a gargalhar demoniacamente à medida que mexiam com os blocos de construção da vida. Daí a etiqueta de comida Frankenstein — isto foi absolutamente fundado em medos profundamente estabelecidos do uso em segredo do poder científico para fins não-naturais. O que nós não percebemos na altura era de que o monstro de Frankenstein verdadeiro não era a tecnologia dos OGM, mas a nossa reacção contra ele.
Para mim, este ambientalismo anti-ciência tornou-se cada vez mais inconsistente com o meu ambientalismo pró-ciência em relação às alterações climáticas. Eu publiquei meu primeiro livro sobre o aquecimento global em 2004, e estava determinado a torná-lo cientificamente credível, em vez de ser apenas uma colecção de casos pontuais.
Como tal, tive que prover a história da minha viagem ao Alasca com dados de satélite sobre o gelo do mar e tive que justificar as minhas fotos de desaparecimento de glaciares nos Andes com registros de longo prazo do balanço de massa dos glaciares de montanha. Isso significava que eu tinha que aprender a ler artigos científicos, entender estatística básica e tornar-me letrado em campos muito distintos desde a oceanografia ao paleoclima, sobre os quais a minha licenciatura em política e história moderna de pouco podia valer.
Dei comigo constantemente discutindo com pessoas que eu considerava ser incorrigivelmente anti-ciência, porque elas não queriam ouvir os climatologistas e negavam a realidade científica das alterações climáticas. Então eu mostrei-lhes o valor da avaliação por pares [peer-review], a importância do consenso científico e como os únicos factos que importavam eram os publicados nas revistas académicas mais ilustres.
O meu segundo livro sobre o clima, o Six Degrees [Seis Graus], era tão 'sciency' [vulgo, científico] que até ganhou o prémio de livros de ciência da Royal Society, e cientistas do clima com que tinha feito amizade brincaram dizendo que eu sabia mais sobre o assunto do que eles. E, no entanto e incrivelmente, nesse momento em 2008, eu ainda estava escrevendo testamentos no Guardian a atacar a ciência dos OGM — mesmo não tendo feito nenhuma pesquisa académica sobre o tema, e tivesse um entendimento pessoal muito limitado. Eu não creio que já tivesse lido algum artigo sério em biotecnologia ou ciência das plantas, mesmo nesta fase tardia.
Obviamente esta contradição era insustentável. O que realmente me fez meter mãos à obra foram alguns dos comentários ao meu último artigo anti-OGM no Guardian. Em particular um crítico disse: então você está contra os OGM na base de que é comercializado por grandes corporações. Você também se opõe à roda, por ser comercializada pelas grandes companhias automobilísticas?
Então eu fiz alguma leitura. E descobri que, uma a uma, as minhas queridas crenças sobre os OGM não eram muito mais do que verdes mitos urbanos.
Eu assumi que iriam provocar o aumento do uso de produtos químicos. Descobri que o algodão e o milho resistentes a pragas precisam de menos insecticida.
Eu assumi que os transgénicos beneficiavam apenas as grandes empresas. Descobri que milhares de milhões de dólares de subsídios foram poupados pelos agricultores que agora necessitavam de menos insumos.
Eu assumi que a tecnologia Terminator estava a privar os agricultores do direito de guardar as sementes. Descobri que os híbridos já fazem isso há muito tempo, e que as Terminator nunca aconteceram de facto.
Eu assumi que ninguém queria transgénicos. Na verdade o que aconteceu foi que o algodão Bt foi pirateado na Índia e a soja tolerante ao glifosato foi pirateada no Brasil porque os agricultores estavam tão ansiosos para usá-los.
Eu assumi que a Modificação Genética era perigosa. Descobri que era mais segura e mais precisa do que o Melhoramento Convencional por Mutagénese, por exemplo; a tecnologia dos transgénicos mexe apenas em um ou outro gene, enquanto o melhoramento convencional remexe o genoma inteiro por tentativa e erro.
Então e quanto à mistura de genes entre espécies diferentes? O peixe e o tomate? Acontece que há vírus que o fazem a toda a hora, assim como plantas e insectos e até mesmo nós — é o chamado fluxo génico ou migração.
Mas isto era só o começo. Assim, no meu terceiro livro A Espécie de Deus, eu mandei para o lixo toda a ortodoxia ambientalista e tentei ver o todo a uma escala planetária.
E é este o desafio que enfrentamos hoje: nós vamos ter que alimentar 9,5 mil milhões de pessoas — esperemos que muito menos pobres — em 2050 numa superfície de terra sensivelmente igual à que usamos hoje, fazendo uso limitado de fertilizantes, água e pesticidas e num contexto de rápidas mudanças climáticas.
Aprofundemos isso um pouco. Eu sei que numa palestra do ano anterior nesta conferência abordou-se o tema do crescimento da população. Esta área também está cercada por mitos. As pessoas pensam que as altas taxas de fertilidade no mundo em desenvolvimento são o grande problema — em outras palavras, as pessoas pobres estão a ter muitos filhos e por isso precisam de planeamento familiar ou até mesmo algo drástico como políticas de um filho por casal.
A realidade é que a fertilidade média global caiu para cerca de 2.5 — e se considerarmos que a reposição natural é 2.2, esse valor não é muito acima disso. Então, de onde está a vir o enorme crescimento da população? Ele é resultado do declínio da mortalidade infantil — mais dos jovens de hoje estão a crescer e a ter seus próprios filhos, em vez de morrer de doenças evitáveis na infância.
O rápido declínio nas taxas de mortalidade infantil é uma das melhores notícias da nossa década e o coração desta história de sucesso é a África sub-saariana. Não é que haja mais legiões de crianças nascendo — de facto, nas palavras de Hans Rosling, já estamos no "pico de crianças" [pico de crescimento]. Ou seja, cerca de 2 mil milhões de crianças estão vivas hoje, e não haverá nunca mais do que isso por causa do declínio da fertilidade.
Mas muitos mais desses 2 mil milhões de crianças sobreviverão hoje até a idade adulta e terão os seus próprios filhos. Eles são os pais dos jovens adultos de 2050. Essa é a fonte da projecção de 9,5 mil milhões de população para 2050. Você não tem que ter perdido um filho, Deus me livre, ou até mesmo ser um pai, para entender que o declínio na mortalidade infantil é uma coisa boa.
Portanto, quanta comida vão necessitar todas estas pessoas? De acordo com as últimas projecções, publicadas no ano passado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, estamos a prever um crescimento da procura mundial bem acima dos 100% até meados do século. Isso quase corresponde totalmente ao crescimento do PIB, especialmente nos países em desenvolvimento.
Por outras palavras, precisamos produzir mais alimentos não apenas para manter a população, mas porque a pobreza está a ser gradualmente erradicada, juntamente com a desnutrição generalizada que ainda hoje significa cerca de 800 milhões de pessoas irem para a cama com fome todas as noites. E eu desafio qualquer pessoa num país rico a dizer que este crescimento do PIB nos países pobres é uma coisa má.
Mas como resultado deste crescimento nós temos desafios ambientais muito sérios para enfrentar. A conversão de terras é uma grande fonte de gases de efeito estufa e talvez a maior fonte de perda de biodiversidade. Esta é outra razão pela qual a intensificação é essencial — temos que crescer mais na terra limitada, a fim de salvar do arado as florestas e demais habitats naturais.
Temos também que lidar com as limitações de água — não apenas os aquíferos em esgotamento, mas também as secas que se espera que ataquem com intensidade crescente os redutos agrícolas dos continentes graças às mudanças climáticas. Se tirarmos mais água dos rios aceleramos a perda de biodiversidade nestes frágeis habitats.
Precisamos também de uma melhor gestão do uso do azoto: fertilizantes artificiais são essenciais para alimentar a humanidade, mas seu uso ineficiente significa zonas mortas no Golfo do México e muitas áreas costeiras ao redor do mundo, bem como eutrofização em ecossistemas de água doce.
Não é suficiente sentar e esperar que a inovação tecnológica venha resolver os nossos problemas. Temos que ser muito mais activistas e estratégicos do que isso. Temos de assegurar que a inovação tecnológica se mova muito mais rapidamente e na direção certa para aqueles que mais necessitam.
Num certo sentido, já aqui estivemos antes. Quando Paul Ehrlich publicou a Bomba Populacional, em 1968, ele escreveu: "A batalha para alimentar toda a humanidade acabou. Na década de 1970 centenas de milhões de pessoas vão morrer de fome, apesar de todos os programas realizados até agora." O conselho foi explícito — no caso de países como a Índia, as pessoas podem morrer de fome bem mais cedo do que tarde, e portanto a ajuda alimentar a eles deve ser eliminada para reduzir o crescimento populacional.
Não foi pré-estabelecido que Ehrlich estivesse errado. Na verdade, se todos tivessem atendido o seu conselho, centenas de milhões de pessoas podiam ter morrido desnecessariamente. Mas entretanto a desnutrição foi reduzida drasticamente, e a Índia tornou-se auto-suficiente em alimento, graças a Norman Borlaug e à sua Revolução Verde.
É importante lembrar que Borlaug estava tão preocupado com o crescimento da população como Ehrlich. Ele apenas achou que valia a pena tentar fazer alguma coisa sobre isso. Ele era um pragmático porque acreditava em fazer o que era possível, mas ele também era um idealista porque acreditava que as pessoas em toda a parte mereciam ter o suficiente para comer.
O que fez, então, Norman Borlaug? Ele virou-se para a ciência e a tecnologia. Os humanos são uma espécie que faz ferramentas — de roupas a arados, a tecnologia é a distinção principal relativamente aos outros primatas. E grande parte deste trabalho foi focado no genoma de grandes culturas domesticadas — se o trigo, por exemplo, pudesse ser mais curto e dispender mais esforço em fazer sementes do que em fazer talos, então o rendimento melhoraria e as perdas de grão durante a colheita seriam minimizadas.
Antes de Borlaug morrer em 2009, ele passou muitos anos em campanha contra aqueles que, por razões políticas e ideológicas, se opunham a inovações modernas na agricultura. Para citar: "Se os pessimistas conseguirem travar a biotecnologia agrícola, eles podem realmente precipitar as fomes e a crise da biodiversidade global que eles vêm prevendo há quase 40 anos."
E, graças às campanhas supostamente ambientais disseminadas a partir de países ricos, estamos perigosamente perto dessa situação actualmente. A biotecnologia não foi interrompida, mas já foi feita proibitivamente cara para todos, excepto para as maiores corporações.
Custa agora dezenas de milhões para fazer passar uma variedade de cultivo através dos sistemas de regulamentação nos diferentes países. Na verdade, os números mais recentes que acabei de ver na CropLife sugerem que custa 139 milhões dólares desde a descoberta de uma variedade de cultivo nova até à comercialização completa, de modo que o sector público ou livre de patentes da biotecnologia realmente não tem a menor chance.
Há aqui uma ironia deprimente que é a dos activistas anti-biotecnologia se queixarem de os transgénicos só serem comercializados por grandes empresas, quando esta é uma situação que eles ajudam a criar mais do que ninguém.
Na UE o sistema está estagnado, e muitas culturas de OGM têm esperado uma década ou mais para aprovação, mas são permanentemente adiadas pelas distorcidas políticas nacionais de países anti-biotecnologia como a França e a Áustria. Por todo o mundo o atraso regulamentar aumentou para mais de 5 anos e meio agora, de 3.7 anos em 2002. A carga burocrática está piorando.
A França, lembre-se, há muito se recusou a aceitar a batata, porque era uma importação americana. Como disse um comentador recentemente, a Europa está à beira de se tornar num museu de alimentos. Nós os bem alimentados consumidores estamos cegos pela nostalgia romântica pela agricultura tradicional do passado. Porque nós temos o suficiente para comer, podemos-nos dar ao luxo de nos entreter com as nossas ilusões estéticas.
Mas ao mesmo tempo o crescimento da produção mundial estagnou para muitas das principais culturas alimentares, como mostrou a pesquisa publicada no mês passado por Jonathan Foley e outros na revista Nature Communications. Se não obtivermos o crescimento de volta iremos realmente ter problemas para acompanhar o crescimento da população e a demanda resultante, e os preços vão subir bem como mais terra vai ser convertida da natureza para a agricultura.
Para citar Norman Borlaug novamente: "Eu agora digo que o mundo tem a tecnologia — disponível ou em fase avançada na linha de pesquisa — para alimentar de forma sustentável uma população de 10 mil milhões de pessoas. A questão mais pertinente hoje é: irão os agricultores e pecuários ter permissão para usar essa nova tecnologia? Enquanto as nações ricas podem certamente dar-se ao luxo de adoptar posições de muito-baixo risco, e pagar mais por alimentos produzidos pelos chamados métodos "biológicos", mil milhões de pessoas cronicamente subnutridas de países de baixo rendimento e déficit de alimentos não o podem fazer."
Como Borlaug dizia, talvez o mito mais pernicioso de todos é que a produção "biológica" é melhor, tanto para as pessoas como para o meio ambiente. A ideia de que é mais saudável tem sido repetidamente refutada na literatura científica. Sabemos também a partir de muitos estudos que o método orgânico é muito menos produtivo, com rendimentos de até 40-50% mais baixos em termos de área de terra. A Soil Association, num relatório recente sobre como alimentar o mundo com produtos biológicos, fez um grande esforço para não mencionar esta diferença de produtividade.
Nem menciona que, em geral, se levarmos em conta os efeitos de deslocamento de terra, o «biológico» é também provavelmente pior para a biodiversidade. Em vez disso eles falam sobre um mundo ideal, onde as pessoas no oeste comem menos carne e menos calorias totais para que as pessoas nos países em desenvolvimento possam ter mais para elas. Isso é um absurdo simplista.
Se pensarmos nisto, o movimento biológico é em seu âmago, rejeccionista. Ele não aceita muitas tecnologias modernas por princípio. Tal como os Amish na Pensilvânia, que congelaram a sua tecnologia em cavalos e carroças em 1850, o movimento biológico essencialmente congela a sua tecnologia em algo em torno de 1950, e por nenhuma razão melhor.
E no entanto nem sequer aplica essa ideia de forma consistente. Eu estava a ler numa revista recente da Soil Association que é OK fazer explodir as ervas daninhas com lança-chamas ou fritá-las com correntes eléctricas, mas usar herbicidas benignos como o glifosato nem pensar, porque são "produtos químicos artificiais".
Na realidade não há nenhuma razão pela qual evitar produtos químicos deva ser melhor para o meio ambiente — muito pelo contrário, na verdade. Uma pesquisa recente por Jesse Ausubel e seus colegas da Universidade Rockefeller analisou quanta terra arável extra os agricultores indianos teriam de cultivar hoje usando as tecnologias de 1961 para obter o rendimento global de hoje. A resposta é de 65 milhões de hectares, uma área do tamanho da França.
Na China os agricultores de milho pouparam 120 milhões de hectares, uma área duas vezes o tamanho da França, graças a tecnologias modernas e obtiveram rendimentos mais elevados. Numa escala global, entre 1961 e 2010, a área cultivada cresceu apenas 12%, enquanto as quilocalorias por pessoa subiram de 2200 a 2800. Assim, mesmo com três mil milhões de pessoas mais, todos ainda têm mais o que comer, graças a um aumento de produção de 300% no mesmo período.
Então, quanta terra em todo o mundo foi poupada no processo graças a estas melhorias de rendimento dramáticas, para as quais os insumos químicos desempenharam um papel crucial? A resposta é de 3 mil milhões de hectares, ou o equivalente a dois continentes sul-americanos. Não restaria nenhuma floresta amazónica hoje sem essa melhora nos rendimentos. Também não haveria quaisquer tigres na Índia ou orangotangos na Indonésia. É por isso que eu não sei por que tantos dos que se opõem ao uso da tecnologia na agricultura se consideram ambientalistas.
De onde vem essa oposição? Parece haver uma suposição generalizada de que a tecnologia moderna equivale a mais risco. Na verdade existem muitas maneiras muito naturais e biológicas para contrair doenças e morte prematura, como o provou o caso dos rebentos de soja orgânicos contaminados na Alemanha em 2011. Esta foi uma catástrofe de saúde pública, com o mesmo número de mortos e feridos causados por Chernobyl, porque bacterias E. coli, provavelmente a partir de estrume animal, infectaram sementes biológicas de rebentos de soja importadas do Egito.
No total, 53 pessoas morreram e 3500 sofreram insuficiência renal grave. E por que esses consumidores escolheram biológico? Porque eles achavam que era mais seguro e saudável, e tinham mais medo de riscos inteiramente triviais de pesticidas e fertilizantes químicos altamente regulamentados.
Se virmos a situação com isenção, muito do debate, tanto em termos de anti-biotecnologia e produtos biológicos, é simplesmente baseado na falácia naturalista — a crença de que o natural é bom, e o artificial é ruim. Isso é uma falácia porque há uma abundância de venenos totalmente naturais e maneiras de morrer, como os familiares daqueles que morreram de contaminação por E. coli vos poderão dizer.
Pelos alimentos biológicos, a falácia naturalista é elevada a princípio central de orientação de todo um movimento. Isto é irracional e devemos à Terra e aos nossos filhos fazer melhor.
Isso não quer dizer que a agricultura biológica não tem nada para oferecer — há muitas boas técnicas que foram desenvolvidas, tais como o cultivo lado a lado e o plantio por complementaridade, que podem ser ambientalmente muito eficazes, mesmo que tendam a exigir um trabalho altamente intensivo. Princípios da agroecologia, como reciclar nutrientes e promover a diversidade na exploração também devem ser levados mais a sério em todo o lado.
Mas o movimento biológico estorva no caminho do progresso quando se recusa a permitir a inovação. Novamente usando os OGM como o exemplo mais óbvio, muitas plantações de terceira geração de OGM permitem-nos não usar produtos químicos ambientalmente nocivos, porque o genoma das variedades em questão foi alterado de modo a que planta se possa proteger de pragas. Por que é que isto não é biológico?
O biológico também estorva quando é utilizado para tirar escolhas aos outros. Um dos argumentos mais comuns contra os OGM é que os campos de cultivo biológicos vão ser "contaminados" com o pólen dos OGM e portanto não se deve permitir a ninguém que os usem. Assim, os direitos de uma minoria abastada, que em última análise protege uma preferência de consumidor baseada na estética, atropelam os direitos de todos os outros de usarem culturas melhoradas que beneficiariam o meio ambiente.
Eu sou a favor de um mundo de diversidade, mas isso significa que um sistema de agricultura não pode pretender ter o monopólio da virtude e se aponte a excluir todas as outras opções. Por que não podemos ter uma co-existência pacífica? Este é particularmente o caso quando nos prendemos a velhas tecnologias que têm riscos inerentes mais elevados do que as novas.
Parece que quase todo mundo tem que prestar devoção ao "biológico" e questionar essa ortodoxia é impensável. Bem, eu estou aqui hoje para questionar isso.
O maior risco de todos é que não tiremos proveito de todos os tipos de oportunidades para inovar por causa do que é na realidade pouco mais do que um preconceito cego. Deixem-me dar dois exemplos, ambos lamentavelmente envolvendo a Greenpeace.
No ano passado, a Greenpeace destruiu uma cultura de trigo GM na Austrália, por todas as razões do costume, com as quais estou muito familiarizado por o ter feito eu mesmo no passado. Esta era uma pesquisa financiada publicamente realizada pela Commonwealth Scientific Research Institute, mas não importa. Eles eram contra porque era GM e antinatural.
O que poucas pessoas ouviram desde então é que um dos outros ensaios sendo realizados, que os activistas da Greenpeace com os seus aparadores de mato felizmente não conseguiram destruir, acidentalmente descobriu um aumento extraordinário de 30% na produtividade do trigo. Basta pensar. Este conhecimento poderia nunca ter sido produzido se a Greenpeace tivesse conseguido destruir esta inovação. Conforme o presidente da NFU Peter Kendall recentemente sugeriu, isso é análogo à queima de livros em uma biblioteca antes que alguém fosse capaz de lê-los.
O segundo exemplo vem da China, onde o Greenpeace conseguiu desencadear o pânico nos media nacionais alegando que duas dezenas de crianças tinham sido usadas como cobaias humanas em um teste da variedade de OGM conhecida por arroz dourado. Eles não tiveram nenhuma consideração pelo facto de este arroz ser mais saudável, e que pode salvar anualmente milhares de crianças da cegueira e morte provocadas pela deficiência de vitamina A.
O que aconteceu foi que os três cientistas chineses citados na conferência de imprensa do Greenpeace foram publicamente perseguidos e, desde então, perderam seus empregos e num país autocrático como a China correm um risco pessoal grave. Internacionalmente, por causa do excesso de regulamentação, o arroz dourado já está na prateleira por mais de uma década, e graças às actividades de grupos como o Greenpeace pode nunca vir a tornar-se disponível para os pobres desnutridos de vitamina A.
Isso a meu ver é imoral e desumano, privar os necessitados de algo que iria ajudá-los e aos seus filhos por causa das preferências estéticas de pessoas ricas e longínquas que não estão em perigo de escassez de vitamina A. A Greenpeace é uma multinacional que rende $100 milhões de dólares por ano, e como tal, tem responsabilidades morais tal como qualquer outra grande empresa.
O facto de o arroz dourado ser desenvolvido no sector público e para benefício público não comove os «antis». Tomemos o Rothamsted Research, cujo director Maurice Moloney falará amanhã. No ano passado o Rothamsted começou a testar um trigo GM resistente ao pulgão que não precisa de pesticidas para combater esta praga grave.
Porque é um OGM, os antis estavam determinados a destruí-lo. Eles falharam graças à coragem do professor John Pickett e sua equipa, que foram para o YouTube e os meios de comunicação contar a história da importância das suas pesquisas e explicar porque não deveriam ser destruídas. Eles recolheram milhares de assinaturas em uma petição enquanto os antis conseguiram apenas umas centenas, e a tentativa de destruição foi gorada.
Um intruso conseguiu escalar o muro, porém acabou por ser o perfeito estereótipo do manifestante anti-OGM — um velho aristocrata etoniano (Eton é uma escola para rapazes privada, conservadora e ligada à igreja de Inglaterra) cujo colorido passado faz o nosso Marquês de Blandford parecer um modelo de cidadania responsável.
Este ativista de sangue azul espalhou sementes de trigo biológico em torno do local dos testes, no que foi provavelmente uma declaração simbólica de naturalidade. A equipa do professor Pickett disse-me que tinham uma solução de muito baixa tecnologia para se livrar dela e deram a volta ao local com um aspirador sem fio portátil para o limpar.
Este ano, além de repetir os testes de trigo, o Rothamsted está a trabalhar numa oleaginosa com ómega 3 que poderia substituir o peixe selvagem na alimentação de salmões de aquacultura. Isto pode ajudar a reduzir o excesso de pesca ao permitir que se cultive em terra alimento a usar na aquicultura. Sim, é OGM, portanto espera-se que os antis também se lhe oponham, apesar dos óbvios benefícios ambientais potenciais em termos de biodiversidade marinha.
Não sei quanto a vocês, mas eu já tive quanto baste. A minha conclusão hoje e aqui é muito clara: o debate sobre OGM acabou. Ele está terminado. Nós não precisamos mais discutir se é ou não seguro —mais de uma década e meia com três biliões de refeições GM ingeridas e nunca houve um único caso comprovado de dano. É mais provável ser atingido por um asteróide do que sofrer algo por ingerir alimentos GM. Mais directo ainda, já morreram pessoas por escolher biológico, mas ninguém morreu por comer OGMs.
Tal como eu fiz há 10 anos, a Greenpeace e a Soil Association reivindicam ser guiadas pelo consenso científico, tal como com as alterações climáticas. No entanto, no que toca aos OGM há um consenso científico sólido, apoiado pela Associação Americana para o Avanço da Ciência, a Royal Society, institutos de saúde e academias nacionais de ciência de todo o mundo. Porém esta verdade inconveniente é ignorada porque entra em conflito com sua ideologia.
Um último exemplo é a triste história da batata GM resistente ao míldio. Ela estava a ser desenvolvido tanto pelo Laboratório Sainsbury como pela Teagasc, um instituto financiado por fundos públicos na Irlanda — mas o Partido dos Verdes irlandês (Green Party), cujo líder muitas vezes atende a esta mesma conferência, era tão contra que eles até moveram um processo judicial contra ela.
Isso apesar do facto de a batata resistente ao míldio poder vir a poupar os agricultores de fazer 15 aplicação de fungicidas por temporada, apesar de a transferência de pólen não ser um problema porque as batatas são propagadas clonalmente e de o gene da discórdia vir de um parente selvagem da batata.
Teria sido um feito histórico ter uma batata resistente desenvolvida na Irlanda, dado o milhão ou mais que morreram devido à fome da batata em meados do século XIX. Teria sido uma coisa maravilhosa para a Irlanda ser o país que derrotou o míldio-da-batata. Mas, graças ao Partido dos Verdes irlandês, isso não aconteceu.
E infelizmente, os antis têm agora os burocratas do seu lado. O País de Gales e a Escócia estão oficialmente sem OGM, tomando a superstição medieval como um imperativo estratégico para os governos descentralizados supostamente guiados pela ciência.
Infelizmente, o mesmo acontece em grande parte da África e da Ásia. A Índia rejeitou a berinjela Bt, mesmo que ela fosse reduzir as aplicações de insecticidas no campo e os seus resíduos na fruta. O governo da Índia está cada vez mais escrava de ideólogos retrógadas como a Vandana Shiva, que idealizam a agricultura aldeã pré-industrial, apesar do facto histórico de ter sido uma época de fomes repetidas e insegurança estrutural.
Na África, o "não aos OGM" ainda é lema para muitos governos. O Quénia, por exemplo, proibiu de facto os alimentos transgénicos por causa dos supostos "riscos para a saúde", apesar do facto de que eles podem ajudar a reduzir a desnutrição que ainda é galopante no país — e a desnutrição, já agora, é comprovadamente um risco para a saúde, sem demonstração adicional necessária. No Quénia, se alguém fizer um cultivo de OGM, que tem melhor nutrição ou um maior rendimento para ajudar os agricultores mais pobres, vai preso por 10 anos.
Deste modo, a inovação agrícola desesperadamente necessária está a ser estrangulada por uma avalanche sufocante de regulamentos que não se baseiam em qualquer avaliação racional e científica de risco. O risco hoje não é que alguém seja prejudicado por alimentos geneticamente modificados, mas que milhões sejam prejudicados por não terem comida suficiente, porque uma minoria de pessoas nos países ricos querem que suas refeições sejam o que eles consideram natural.
Espero que agora as coisas estejam a mudar. A maravilhosa Fundação Bill e Melinda Gates recentemente doou $10 milhões de dólares para que o John Innes Centre comece a envidar esforços para integrar os recursos de fixação de azoto em cultivos alimentares importantes, a começar pelo milho. Sim, Greenpeace, este será GM. Superem isso. Se queremos reduzir o problema da poluição por azoto em escala global, ter plantas dos cultivos mais importantes a fixar o seu próprio azoto é um objetivo que vale a pena.
Eu sei que é politicamente incorrecto dizer tudo isso, mas precisamos de uma maior dose de desconstrução de mitos e de desregulação. Os cientistas de plantas que conheço ficam cabisbaixos quando eu falo sobre isso com eles porque os governos e tantas pessoas têm o seu sentido de risco de forma totalmente errada, e estão bloqueando uma tecnologia extremamente necessária.
Norman Borlaug está morto agora, mas eu acho que nós honramos a sua memória e a sua visão ao nos recusarmos a ceder às ortodoxias politicamente correctas quando sabemos que elas estão erradas. A aposta é alta. Se continuarmos a perceber isto mal, as perspectivas de vida de milhares de milhões de pessoas serão prejudicadas.
Então eu desafio todos vós hoje a questionar as vossas crenças nesta área e a ver até que ponto elas sobrevivem a um exame racional. Exijam sempre provas, como aconselha a campanha Sense About Science, e certifiquem-se de ir além dos relatórios auto-referenciais das ONGs propagandísticas.
Mas o mais importante de tudo é que os agricultores devem ser livres de escolher que tipo de tecnologias querem adoptar. Se você acha que as velhas são as melhores, tudo bem. Você tem esse direito.
O que você não tem o direito de fazer é ficar no caminho de outros que esperam e se esforçam por meios de fazer as coisas de forma diferente, eventualmente melhor. Agricultores que compreendem as pressões de uma população crescente e um mundo em aquecimento. Que entendem que os rendimentos por hectare são a métrica mais importante do meio ambiente. E que entendem que a tecnologia nunca pára de se desenvolver, e que mesmo o frigorífico e a humilde batata foram novos e assustadores alguma vez.
Então, a minha mensagem para o lobby anti-OGM, desde as fileiras dos aristocratas britânicos e chefs-celebridades aos foodies [fanáticos por comida] nos EUA ou aos grupos de camponeses da Índia, é esta. Você tem direito às suas opiniões. Mas você agora tem de saber que elas não são suportados pela ciência. Estamos a chegar a um ponto de crise, e para o bem das pessoas e do planeta, agora é a hora de você sair do caminho e deixar o resto de nós tratar de alimentar o mundo de forma sustentável.