[Projecto] DivinarmoniA

Bem, já que ando a distribuir isto pelos meus amigos, fica aqui também um pequeno excerto de um dos vários textos que integrará o livro que ando a escrever.

" Nesta noite gélida, reino de escuridão, deito-me na minha cama quente, abrigando-me das atrocidades do mundo que me rodeia. Debaixo dos lençóis acetinados sinto-me seguro, nesta virtual barreira entre mim e o universo envolvente. Fico sozinho, comigo próprio, reflectindo sobre os mais ínfimos pedaços da minha mente. Mente demente! Nela encontro a dúvida, tão cruel e omnipresente, um mar difuso de pensamentos e desejos contraditórios.

A dúvida é algo cruel, desumano. A incerteza em relação aos nossos próprios sentimentos torna-se desesperante e é a mãe de muitas loucuras. Não, não são aquelas triviais dúvidas de “sim ou não?”, “quero ou não quero?”, “vou ou não vou?”. São as dúvidas complexas, por vezes complexas demais para as compreendermos inteiramente. No entanto, elas fazem parte da nossa vida e temos que lidar com elas. Injustiça! Porque nos temos que submeter a algo que ultrapassa as nossas capacidades? Porque somos obrigados a tomar decisões cujo balanço racional não conseguimos nem podemos ter muita das vezes?

Mergulhei na minha mente, este mar de dúvidas, familiarmente desconhecido. Para onde vou? Derivo ao sabor da corrente, alucinantemente rápida. Imagens (um rosto?), sons (um riso?), memórias partidas, disconexas, estilhaçadas pelo tempo. Mas eis que surge algo… Um rosto conhecido num corpo familiar; com esta imagem, vêm recordações da sua voz, do seu sorriso, do seu olhar; com estas imagens vêm lembranças de episódios passados, tão frescos na minha alma, absurdamente doces; com estas lembranças vêm os sentimentos, caíndo como água numa cataracta e diluíndo tudo num único elixir; tomo esse elixir e apercebo-me… Tarde demais! Nele estava o veneno, a dúvida, que surge, imensa, outra vez, como em todas as outras noites. Sufoco!

Lembro-me muita vez de ti. São momentos agridoces, nos quais as minhas lágrimas sorriem e a minha dor é capaz de amar. Mas afinal, porquê? Porquê este sentimento, esta dúvida, este sim que é não que é sim que é… Ódio! Ódio de mim mesmo! Só eu sei a resposta, mas não a encontro. A verdade é que sempre que penso em ti me vem um estranho sorriso aos lábios. Porquê? Tu não me amas, dificilmente o farás algum dia. Sorriso idiota! Em vez de reflectires a dor real, reflectes a imensa alegria imaginária do “e se ela me amasse!”. Não, talvez não seja isso. Talvez este sorriso seja apenas o reflexo da enorme admiração que tenho por ti…

… neblina… frio, muito frio… frio mortal… tremo… explosão de luz!... cego, cego!... calor… doce calor… mais neblina… rodopia… turbilhão de cor… espera!... a cor ganha formas… um mundo! Cheguei! … “Bem vindo ao mundo dos sonhos, onde o irreal é real.”… Como vim aqui parar? Lembro-me de… não interessa! Estou aqui, é isso que importa. Esta é a minha realidade! Mas… lembro-me vagamente de chamar a isto ilusão… não! Não! Isto é real! Tem que ser… É aqui que sou feliz!

NOTA: Este texto é um pequeno excerto de uma obra maior em construcção no qual as emoções humanas são exemplificadas com os meus próprios sentimentos. A obra pré-intitulada DivinarmoniA não tem data prevista de conclusão porque ainda está início de desenvolvimento. Contará com textos de caractér poético e crítico-reflexico e poesia. Este excerto será alterado na versão final, como todos os outros rascunhos escritos até agora."