Algumas reflexões e constatações acerca de Ateísmo, Monoteísmo e Politeísmo.
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Aelle Mestre
N. de Mensagens : 748 Idade : 41 Raça : Hobbit Elemento : Terra/Rocha Deus : Cronos (Tempo/Ordem/Lei) Cor : Azul Escuro
Assunto: Algumas reflexões e constatações acerca de Ateísmo, Monoteísmo e Politeísmo. Seg Ago 15, 2011 2:07 am
Seja qual for a realidade em questão, os seres humanos são, enfim, os mesmos. Por essa razão, desde cedo recusei abraçar bandeiras generalistas e rejeitar, de forma sectária, qualquer fonte ideológica, gnosiológica, histórica ou axiológica, independentemente do facto da sua doutrina de origem não me merecer especial simpatia, ou credibilidade.
O Ateísmo, em grande medida, é, também ele, uma doutrina religiosa. E entre os seus fiéis, há, como nas restantes organizações (religiosas ou quaisquer outras), elementos inteligentes, dotados de informação, e também pessoas intolerantes e obtusas.
A questão que envolve estudo, opinião e constatação sobre realidades e essências que ultrapassam a nossa, devia ser tratada de forma mais honesta e também humilde. É certo que o facto do debate religioso estar pejado de alegorias, metáforas e personificações, poderá, eventualmente, não ajudar ao seu aprofundamento, e convidar à sua ridicularização. Mas, se deixarmos isso de parte, há factos que a lógica obriga todos os bandeirantes a abraçar.
Vejamos, poderá o Ser Humano, arrogar-se no direito supremo de sequer tentar compreender um hierarquia cósmica e superior, a que se chama, às vezes, de Deus? Certamente que não! A discussão e compreensão está impossibilitada, ou, no mínimo, altamente limitada.
No entanto, o que é Deus?
Deus = Cosmos.
O Cosmos é uma realidade, não é assim? Ou, mesmo sendo uma ilusão, tem certamente uma origem. Portanto, o ateísmo é uma doutrina que fica engavetada à partida. Livros muito populares como "The God Delusion", são interessantes, mas se aceitarmos o simples facto que Deus é Cosmos, bom, então não há ilusão nenhuma. Esqueçamos a abordagem minimalista das fábulas, que retrata Deus como uma entidade que tem um trono, e fala, e se senta; em suma, uma entidade que muitos credos insistem em interpretar à nossa imagem e semelhança.
Passemos à alegada contradição entre Monoteísmo e Politeísmo. O conhecimento cósmico, dos restantes estágios da existência, e tentativa de estudo ou percepção de outras hierarquias cósmicas, é transversal a todos os povos. Todas as interpretações são dignas de serem analisadas, se forem honestas. Muitos pagãos (eu sou pagão) confundem e reduzem o conceito de Monoteísmo às seitas Judaico-Cristãs, e outras. Mas isso não é verdade. Vejamos o que diziam os Antigos Egípcios, cultura crucial e incontornável para quem não quiser perder o fio à meada do conhecimento existencial:
Assim descreviam eles o Deus supremo Ámon: "Aquele cuja transformação começou pela primeira vez Ámon, que foi produzido no princípio, sem que o seu mistério fosse conhecido.
Antes dele não houve deus; Não havia outro deus com ele para lhe dizer o seu nome; Não havia homem que o tivesse procurado e lhe tivesse dito "Sou eu!"
Aquele que preparou o seu próprio ovo; O poderoso, cujo nascimento é misterioso, que criou a sua beleza,
O deus divino atingiu a realidade de si próprio, Todos os Deuses atingiram a realidade, Logo que se deu o início. "
Não podia ser mais taxativo. De resto, esta descrição poderá bem ser enquadrada na teoria do Big Bang, sem qualquer dificuldade, se pusermos sectarismos de parte.
Importa acrescentar, e será assunto para outro tópico, que o próprio monoteísmo judaico-cristão, primitivo, de seita, é um plagiato da cultura egípcia superior. Vejamos outro exemplo. Apresentarei dois textos, o primeiro, um extracto egípcio, seguido do texto hebreu:
Egípcio, original, da autoria do sábio Amonemope:
Bens que obtiveres por rapina Não passarão a noite contigo De manhã já não estarão em casa Verás o seu lugar, mas eles não estarão lá Eles não têm asas, como os patos E não voarão para o céu.
E agora, do livro Provérbios, da Bíblia, os seguintes versos atribuídos a Salomão, cuja mulher era egípcia.
Não te atormentes para enriquecer, Renuncia ao lucro desonesto! Fixa os olhos nele, mas já lá não está Porque ele soube arranjar asas, E como as águias, voar para o céu.
Apesar da liberdade criativa, se me permitem a ironia, de Salomão, ao dar asas aos bens desonestos, a semelhança é difícil de negar.
O conhecimento é, igualmente, monoteísta e panteísta.
Porque se Deus (monoteísmo) = Cosmos.
Não nos podemos olvidar das restantes hierarquias, e realidades que existem. As próprias correntes judaico-cristãs representam anjos, demónios, etc, etc. Não veneram só, nem se tentam relacionar apenas com, a abstracção cósmica, apesar do que pregam. Não me alongarei muito nesta questão. Deuses = Planetas = Astros = Entidades Extra-Terrestres = Forças da Natureza, etc, etc. (Nesta equação estou a cobrir algumas das várias hipóteses existentes.) Será um novo tópico.
O que quero dizer, em conclusão, é o seguinte:
A busca do conhecimento honesto, tem que ser transversal, universal, e livre de sectarismos.
Acima de nós, estão os Deuses (sejam eles o que, ou quem forem.) E acima dos nossos "Deuses", outros "Deuses" haverá, e muitas outras realidades, para as quais ainda nos foge um nome.
Saudações pagãs!
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Algumas reflexões e constatações acerca de Ateísmo, Monoteísmo e Politeísmo. Seg Ago 15, 2011 7:04 am
É um tema interessante em que considero haver muita concepção errada acerca dos devidos significados dos termos. Vamos então abordar o assunto.
Aelle escreveu:
Seja qual for a realidade em questão, os seres humanos são, enfim, os mesmos. Por essa razão, desde cedo recusei abraçar bandeiras generalistas e rejeitar, de forma sectária, qualquer fonte ideológica, gnosiológica, histórica ou axiológica, independentemente do facto da sua doutrina de origem não me merecer especial simpatia, ou credibilidade.
De facto a origem dos "rótulos" não tem necessariamente nada a ver com a credibilidade dos mesmos. Dizer coisas acertadas não é uma exclusividade de uma única posição ideológica no mundo. Além do mais há outra coisa importante a referir em relação aos rótulos: Nem sempre há rótulos que descrevam uma pessoa a 100%, se é que isso é alguma possível. Normalmente há apenas um grau aproximado que permite descrever, inferir, de forma muito básica, a posição do indivíduo. Os rótulos são criados para classificar o indivíduo quanto à sua posição ideológica, para simplificar o mais possível e descrever aquilo que ela pensa, com base em conceitos predefinidos, da mesma forma que nós usamos o substantivo "relógio" quando nos referimos a um instrumento que na verdade pode ser descrito em 40 páginas ou mais, se formos a referir todas as peças que o compõem, desde os ponteiros, até à pilha, passando pela bracelete modular - divisível em partes ainda mais pequenas, se for caso disso - e indo até ao extremo das composições químicas das ligas metálicas e plásticos que o compõem. Porém não é prático nem amigável descrever as coisas dessa forma numa situação do nosso dia-a-dia. Como tal criámos rótulos que nos auxiliam a compreensão básica da natureza de um determinado objecto, a posição ideológica de uma pessoa, ou o que quer que seja... E isto resulta relativamente bem, até certo ponto, e não vejo outra forma mais frutífera de o fazer do que esta! Até os nomes das cores não são mais do que uma rude simplificação que damos a uma determinada gama de comprimentos de onda de radiação electromagnética (luz). Dentro do substantivo "vermelho" poderíamos, se fosse prático, inventar milhares de nomes para dar a cada tom de cor avermelhada que existe perceptível ao olho humano - e não me refiro a sinónimos como "encarnado", refiro-me a nomes para tons efectivamente diferentes quanto ao seu comprimento de onda dentro da gama a que chamamos "vermelho".
Aelle escreveu:
O Ateísmo, em grande medida, é, também ele, uma doutrina religiosa.
Não é verdade, pelo menos da forma como colocaste a frase. Podemos chamar "ateísmo" à posição da pessoa quanto à sua religião, da mesma forma que podemos chamar de "assexual" ao regime sexual da pessoa, mesmo que "assexual" signifique "indiferença perante a prática do sexo". De igual forma podemos classificar como "careca" uma pessoa quanto à sua cor de cabelo ou penteado, mesmo que careca pressuponha, por si só, a ausência de penteado e de cabelo (logo a cor de cabelo torna-se irrelevante). Ou seja, a ausência ou irrelevância de algo torna-se também a classificação dada em relação à pergunta. De certa forma, é como perguntar "O que é que tem?" e responder: "não tem"; ou: "não se aplica"; ou ainda: "é irrelevante". Dessa forma o "não ter" torna-se naquilo que a pessoa responde ter quanto à pergunta, é a sua característica descritiva.
Porém no ateísmo é um caso mais bicudo, pois o ateísmo não pressupõe a ausência de religião e vou explicar porquê. A bem dizer não só o ateísmo não pressupõe uma irreligiosidade, como o teísmo (crença afirmativa em Deus) não pressupõe obrigatoriamente uma religiosidade. E aqui vai a explicação para tal:
Na verdade o ateísmo nem tem necessariamente a ver com a religião da pessoa, mas apenas e só com a sua crença (ou neste caso descrença) em Deus. A definição primordial do ateísmo é: "Ausência de crença na existência de Deus(es)". A definição primordial do teísmo é: "Presença de crença na existência de Deus(es)".
Apesar do ateísmo em si não ser uma religião, já que o conceito de ateísmo não tem dogmas nem ritos específicos, na verdade até existem religiões ateístas, se quisermos ser factuais e precisos. Isto é: Religiões onde há uma ausência de crença na existência de Deus, ou onde é irrelevante que os seus membros acreditem na existência de uma entidade divina transcendente (ou várias), mas que para todos os efeitos, tendo em conta as características do grupo, tratam-se de religiões com tudo para poderem ser tratadas como tal. Exemplos de algumas dessas religiões ateístas são: Jainismo, Taoismo, Confucianismo, Budismo (Em especial a corrente mais antiga em actividade: Theravada, pois há outras correntes que não são ateístas, dentro do Budismo), Movimento Raeliano, entre outras.
Embora não sejam religiões tão conhecidas e tão dominantes em termos percentuais no mundo, na verdade estas são religiões ateístas onde os seus membros não portam uma crença em Deus. Portanto podemos dizer que a crença em Deus é uma coisa, uma religião é outra. Uma religião não pressupõe uma crença em Deus, como fica patente nestes exemplos que dei agora.
Contudo, volto a afirmar que o ateísmo em si não pode ser considerado intrinsecamente uma religião, falta-lhe todo um conjunto de elementos necessários para passar a ser uma religião: Uma religião é um conjunto formal, organizado, composto por um culto específico erigido sob um sistema de crenças, tradições, práticas/ritos, doutrinas, pontos de vista (filosofias) do forro sociocultural, normas de conduta moral, entre outras particularidades que as distinguem entre as demais religiões - ou mesmo entre as suas correntes internas - segundo os pontos onde diferem. A crença em Deus, embora uma ocorrência frequente identificável nas religiões, não é uma obrigatoriedade.
O ateísmo não se encaixa nestes requisitos. De igual forma o teísmo também não é uma religião, trata-se apenas da posição da pessoa quanto à sua crença em Deus. Cristianismo, Islamismo, etc.. essas sim são religiões (teístas). Mas o teísmo por si só não é uma religião, é um rótulo dado a quem acredita em Deus e não explicita qual a religião formal a que a pessoa aderiu. De igual forma o agnosticismo/gnosticismo também não é uma religião, é a posição da pessoa quanto ao eixo da certeza. Uma pessoa que diga não ter a certeza é agnóstica. Uma pessoa que diga ter a certeza é gnóstica.
Em relação ao que disse lá em cima também: "O teísmo também não pressupõe religiosidade". Ora na mais pura das verdades, e por muito que seja raro face à esmagadora maioria de teístas no mundo, uma pessoa pode acreditar em Deus e ainda assim ser irreligiosa, escolher não se aliar a nenhuma religião organizada existente, formar as suas próprias crenças e interpretar tudo à sua maneira. Essa visão pessoal pode ser despida o suficiente para não poder ser considerada uma religião a título formal. Mais ainda: essa pessoa que acredita em Deus pode até ter uma raiva, uma grande aversão às religiões e considerar que as religiões são um obstáculo enorme que impede as pessoas de buscar, da sua própria forma, por Deus, ao imporem dogmas criados pelo homem.
Portanto o assunto é mais complexo do que aparenta à primeira.
Aelle escreveu:
E entre os seus fiéis, há, como nas restantes organizações (religiosas ou quaisquer outras), elementos inteligentes, dotados de informação, e também pessoas intolerantes e obtusas.
Sim, mesmo que esses ateus religiosos sejam praticantes da corrente Theravada do Budismo, que é uma religião normalmente considerada pacífica e benigna, há gente intolerante e obtusa em todo o lado, até pode ser apenas uma fase passageira, ora até pode ser um dia em que a pessoa está mal disposta, stressada, pode nem ser uma característica típica da sua personalidade. Há sempre dias em que podemos ser mais intolerantes, obtusos, arrogantes, mal humorados, etc... Ninguém é perfeito, nem andamos lá próximos, quanto mais a 100% do tempo. E os ateus irreligiosos também têm esse problema pela frente, sim, como é óbvio.
Aelle escreveu:
A questão que envolve estudo, opinião e constatação sobre realidades e essências que ultrapassam a nossa, devia ser tratada de forma mais honesta e também humilde. É certo que o facto do debate religioso estar pejado de alegorias, metáforas e personificações, poderá, eventualmente, não ajudar ao seu aprofundamento, e convidar à sua ridicularização. Mas, se deixarmos isso de parte, há factos que a lógica obriga todos os bandeirantes a abraçar.
Todas as posições em relação ao assunto afirmam-se como legítimas e não reconhecem uma desonestidade e falta de humildade na sua posição. Porém, pessoalmente diria que as posições "gnósticas", ou seja, que afirmam ter a certeza acerca do assunto, revelam uma maior falta de humildade do que as agnósticas, pois clamam clarividência sobre um assunto para o qual - a bem dizer - de nada sabemos, nem nada está confirmado e dado como certo ou absoluto. Dessa forma creio que o agnosticismo é uma posição das mais humildes entre as existentes (se não mesmo a mais humilde), já que não se dá a títulos de clarividência relativamente ao assunto nem afirma ter o conhecimento absoluto sobre estas questões. O agnosticismo/gnosticismo não são posições válidas sozinhas. São complementos às outras posições (ateísmo, teísmo, pateísmo, deismo, etc)
Pessoalmente sou ateu agnóstico e irreligioso, sou uma pessoa que não tem religião, não clama ter a certeza se Deus existe ou não (no passado, presente ou futuro, seja de que forma for) mas que, para todos os efeitos, até que seja provada a sua existência, não acredito em Deus pois não fui ainda convencido por nenhum argumento sólido a favor da sua existência. Como tal reservo-me à posição por defeito no cepticismo: não dar como certa a existência ou inexistência de algo até que esse algo seja devidamente demonstrado da forma possível.
Aelle escreveu:
Vejamos, poderá o Ser Humano, arrogar-se no direito supremo de sequer tentar compreender um hierarquia cósmica e superior, a que se chama, às vezes, de Deus? Certamente que não! A discussão e compreensão está impossibilitada, ou, no mínimo, altamente limitada.
Exacto, por isso mesmo é que, a título pessoal, acho que uma posição a tender para o agnosticismo é a mais adequada para esta matéria, pois é admitir que não sabemos ao certo, que estamos a lidar com incertezas e - principalmente - especulações ao mais alto nível.
Aelle escreveu:
No entanto, o que é Deus?
Deus = Cosmos.
A definição de Deus varia muito consoante as diferentes religiões. Deus = Cosmos é a concepção panteísta de Deus e não corresponde necessariamente à visão teísta. Considero que nenhuma das definições de Deus se sobrepõe às restantes, embora possa a haver, a título pessoal, uma maior identificação com uma ou com outra. Não há propriamente um crachá a identificar uma definição de Deus como a mais "genuína e acertada".
Aelle escreveu:
O Cosmos é uma realidade, não é assim? Ou, mesmo sendo uma ilusão, tem certamente uma origem. Portanto, o ateísmo é uma doutrina que fica engavetada à partida.
Não creio, essa é uma forma de raciocinar que não é válida para quem não pensa da mesma forma que tu, Aelle. O máximo que acabaste de referir e que podemos aceitar é que o Cosmos, o Universo, o TUDO que existe à nossa volta e que é absorvido pelos nossos sentidos, é uma realidade. Mas não demonstraste de que forma é que Deus é o Cosmos. Não demonstraste a sua origem como uma prova para a existência de Deus. E não demonstraste porque é que o ateísmo é uma "doutrina" ou porque é que ele fica engavetado à partida.
Dizer que a existência do Cosmos por si só é uma prova da existência de Deus, não é um argumento válido, pois depende da assumpção que criaste a priori de que Deus existe e Deus é o Cosmos. Essa premissa não é satisfatória para as outras pessoas e só é válida dentro do teu viés cognitivo. Seria o mesmo que eu dizer que a prova da inexistência de Deus é a morte de estrelas, de pessoas, de animais, de praticamente tudo o que causa dano, em especial para nós, humanos, como a perda de um familiar ou amigo. Será que essas perdas, essas mortes, são a prova da inexistência de Deus, se formos por esse caminho? Ora como vês o mesmo argumento pode ser usado de forma contrária. É necessário arranjar provas que consubstanciem de forma credível para as outras pessoas a correlação que afirmas existir entre o Cosmos e Deus. De igual forma alguém que queira alegar que o sofrimento no mundo e a morte de estrelas, choque entre galáxias, etc, é a prova da inexistência de Deus, terá de o demonstrar de outra forma mais credível do que o simples depósito de fé e crença injustificada, tanto quanto nos é possível verificar e constatar de forma verosímil.
Aelle escreveu:
Livros muito populares como "The God Delusion", são interessantes, mas se aceitarmos o simples facto que Deus é Cosmos, bom, então não há ilusão nenhuma. Esqueçamos a abordagem minimalista das fábulas, que retrata Deus como uma entidade que tem um trono, e fala, e se senta; em suma, uma entidade que muitos credos insistem em interpretar à nossa imagem e semelhança.
Se tudo fosse assim tão simples, mas não é. Não me parece que a maioria dos religiosos queiram concordar com essa forma de ver as coisas. De igual forma não me parece que a maioria dos irreligiosos ateus que apostem em explicações naturalistas/materialistas queiram aceitar que a simples existência de algo à nossa volta é a prova da existência de Deus ou do que quer que seja adicionalmente para lá do próprio objecto, mesmo que Deus seja tudo na tua visão. Para essas pessoas, quanto muito aceitam a existência do "Tudo", e sabem que tu chamas "Deus" a esse "Tudo" mas elas não, pois para elas esse "Tudo" não tem nada de sobrenatural nem transcendente, e se não tem nada de sobrenatural nem transcendente então não merece ser chamado de Deus, merece ser chamado de Cosmos pois é esse o nome que lhe temos dado actualmente e Deus confunde-se com outras definições já existentes. Portanto não creio que essas coisas fiquem assim tão facilmente resolvidas. A existência de um pássaro num galho de uma árvore não é a prova da existência de algo mais para além do próprio pássaro e da própria árvore. Podemos tentar descobrir e investigar de onde vieram essas duas formas de vida, e já o fizemos, mas a questão está em perceber de que forma é que isso prova ou não a existência de Deus. Até ao momento a inclusão de Deus na equação fica reservada àqueles que querem acreditar nisso, não tendo qualquer peso ou argumento irrecusável para aqueles que não acreditam, e vice-versa.
Aelle escreveu:
Passemos à alegada contradição entre Monoteísmo e Politeísmo. O conhecimento cósmico, dos restantes estágios da existência, e tentativa de estudo ou percepção de outras hierarquias cósmicas, é transversal a todos os povos. Todas as interpretações são dignas de serem analisadas, se forem honestas. Muitos pagãos (eu sou pagão) confundem e reduzem o conceito de Monoteísmo às seitas Judaico-Cristãs, e outras. Mas isso não é verdade. Vejamos o que diziam os Antigos Egípcios, cultura crucial e incontornável para quem não quiser perder o fio à meada do conhecimento existencial:
Assim descreviam eles o Deus supremo Ámon: "Aquele cuja transformação começou pela primeira vez Ámon, que foi produzido no princípio, sem que o seu mistério fosse conhecido.
Antes dele não houve deus; Não havia outro deus com ele para lhe dizer o seu nome; Não havia homem que o tivesse procurado e lhe tivesse dito "Sou eu!"
Aquele que preparou o seu próprio ovo; O poderoso, cujo nascimento é misterioso, que criou a sua beleza,
O deus divino atingiu a realidade de si próprio, Todos os Deuses atingiram a realidade, Logo que se deu o início. "
Não podia ser mais taxativo. De resto, esta descrição poderá bem ser enquadrada na teoria do Big Bang, sem qualquer dificuldade, se pusermos sectarismos de parte.
Importa acrescentar, e será assunto para outro tópico, que o próprio monoteísmo judaico-cristão, primitivo, de seita, é um plagiato da cultura egípcia superior. Vejamos outro exemplo. Apresentarei dois textos, o primeiro, um extracto egípcio, seguido do texto hebreu:
Egípcio, original, da autoria do sábio Amonemope:
Bens que obtiveres por rapina Não passarão a noite contigo De manhã já não estarão em casa Verás o seu lugar, mas eles não estarão lá Eles não têm asas, como os patos E não voarão para o céu.
E agora, do livro Provérbios, da Bíblia, os seguintes versos atribuídos a Salomão, cuja mulher era egípcia.
Não te atormentes para enriquecer, Renuncia ao lucro desonesto! Fixa os olhos nele, mas já lá não está Porque ele soube arranjar asas, E como as águias, voar para o céu.
Apesar da liberdade criativa, se me permitem a ironia, de Salomão, ao dar asas aos bens desonestos, a semelhança é difícil de negar.
Sim é errado dizer que as religiões abraãmicas são as únicas religiões monoteístas alguma vez existentes no mundo inteiro. Isso é falso e tu já deste alguns exemplos.
Aelle escreveu:
O conhecimento é, igualmente, monoteísta e panteísta.
Porque se Deus (monoteísmo) = Cosmos.
Não é necessariamente verdade, ou então enganaste-te na palavra. O panteísmo é que considera TUDO/Cosmos como Deus. O politeísmo e monoteísmo são conceitos diferentes do panteísmo. O politeísmo é decomposto em inúmeras entidades divinas (normalmente personificadas) responsáveis por diferentes áreas da natureza ou cargos... Thor, Zeus, Shiva, Rá, Seth, etc... Enquanto que o monoteísmo é decomposto numa só entidade divina, que não tem de ser obrigatoriamente TUDO/Cosmos. Normalmente é uma entidade inteligente personificada, embora também não tenha de ser antropomórfica. De certa forma pode-se dizer que o panteísmo vai até mais longe que o politeísmo e considera todas as inúmeras coisas que existem (que certamente são mais do que uma única coisa) como Deus... Ora "Cosmos" é um rótulo que damos a TUDO o que existe, que é composto por múltiplas partes como o relógio, não sendo portanto, a bem dizer, uma só coisa
Aelle escreveu:
Não nos podemos olvidar das restantes hierarquias, e realidades que existem. As próprias correntes judaico-cristãs representam anjos, demónios, etc, etc. Não veneram só, nem se tentam relacionar apenas com, a abstracção cósmica, apesar do que pregam. Não me alongarei muito nesta questão. Deuses = Planetas = Astros = Entidades Extra-Terrestres = Forças da Natureza, etc, etc. (Nesta equação estou a cobrir algumas das várias hipóteses existentes.) Será um novo tópico.
Sim, aliás, o catolicismo é muito criticado por outras correntes cristãs por fazer uma inclusão de Santos e todo o tipo de entidades que são quase "deuses menores", fazendo dessa numerosa corrente do cristianismo praticamente uma religião politeísta... De facto há gente que se prostra perante santos e santas como é o caso de Nossa Senhora de Fátima, como se de uma Deusa se tratasse. Alem disso existem os resquícios do politeísmo pagão absorvido outrora pelo Cristianismo, que ainda está patente por vezes. Há quem diga, em tom sarcástico, que o cristianismo - em especial o catolicismo - é uma religião politeísta. Hehe.
Aelle escreveu:
O que quero dizer, em conclusão, é o seguinte:
A busca do conhecimento honesto, tem que ser transversal, universal, e livre de sectarismos.
Acima de nós, estão os Deuses (sejam eles o que, ou quem forem.) E acima dos nossos "Deuses", outros "Deuses" haverá, e muitas outras realidades, para as quais ainda nos foge um nome.
Saudações pagãs!
Na verdade, se queremos optar pelo conhecimento honesto, humilde, livre de sectarismos, o máximo que podemos dizer é que não sabemos se acima de nós estão/está Deus(es), pois não sabemos se ele(s) existe(m). Para sermos intelectualmente humildes, essa é a grande realidade: não sabemos, não foi demonstrado afirmativamente nada que os correlacione e demonstre sem margem para dúvidas como entidades existentes, de uma forma que seja universalmente aceite. Portanto essa é a única certeza e conclusão que podemos tirar, a meu ver: a conclusão de que ainda não sabemos. Como tal acho que o ideal é não dar como certa a sua existência ou inexistência. E pessoalmente como não tenho provas disso, para todos os efeitos não acredito à partida, até porque é uma hipótese demasiado extraordinária para ser aceite sem mais nem menos como uma realidade. Como disse Carl Sagan: Alegações extraordinárias exigem provas extraordinárias. Se tu, Aelle, disseres que tens aí um CD de uma banda, eu não tenho problemas em acreditar que pode ser bem verdade. Agora se disseres que tens aí todos os CDs de música editados até ao momento no mundo, aí vou ter de duvidar pois considero que isso não é suficientemente razoável para ser credível. Nem todas as alegações têm o mesmo peso. A verosimilhança - que normalmente costuma ser em parte subjectiva e noutra parte objectiva - varia conforme o teor da alegação. E a alegação de que Deus(es) existem é demasiado extraordinária para ser dada como uma certeza dada a inexistência de evidências que me convençam. Isto a título individual, como é óbvio não posso falar pelos outros. Aquilo que digo, as minhas opiniões, são da minha responsabilidade e não têm de ser aplicáveis a toda a gente.
Última edição por Averróis em Seg Ago 15, 2011 8:47 am, editado 2 vez(es)
Aelle Mestre
N. de Mensagens : 748 Idade : 41 Raça : Hobbit Elemento : Terra/Rocha Deus : Cronos (Tempo/Ordem/Lei) Cor : Azul Escuro
Assunto: Re: Algumas reflexões e constatações acerca de Ateísmo, Monoteísmo e Politeísmo. Seg Ago 15, 2011 8:40 am
Eu não pretendo provar a existência de Deus, nem pouco mais ou menos. O próprio conceito é uma invenção humana, uma tentativa de compreensão de algo que não está ao nosso alcance, Averróis. Quis exemplificar, identificar. Constato, sim, que o Cosmos é uma realidade. Ou antes, não necessariamente! Se entendermos todo o conceito existencial como uma espécie de realidades encaixotadas umas nas outras, (pensa nas Matrioshkas russas), este mesmo estágio poderá ser uma espécie de ilusão. O próprio tempo, a matéria, o espaço, etc, etc. Mas isso já é outra discussão. É verdadeiramente incrível a ignorância (não me refiro à académica) e arrogância limitadoras que grassam pela Humanidade. Bom, incrível não diria, mas sempre revoltante, em todo o caso.
A maneira como abordamos e compreendemos certos temas também está subordinada e relacionada com a nossa essência cósmica e espiritual. E aí entra a astrologia, que é muito ridicularizada pelas religiões ateias. Sim, religiões, repito. Porque o sentimento dessas pessoas é o mesmo. É exactamente o mesmo. Os mecanismos, as respostas, os sentimentos que são activados, não diferem. E é a isto que me refiro, é isto que me interessa, nesta discussão.
Um Sagitário, um Aquário e um Gémeos abordarão sempre certos assuntos de uma forma mais livre e construtiva que um nativo de um signo de Terra, por exemplo. A não ser que haja ascendentes antagónicos, que enriqueçam ou empobreçam certas características da casa-mãe. Os Astros ditam a nossa natureza. Enquadremo-nos, tentemos esse impossível, que é situar-nos na nossa pequenez cósmica, e o facto de sermos subordinados a hierarquias cósmicas e energéticas mais poderosas e primordiais.
Posto isto, repito: o sentimento de fé, a busca de uma relação com realidades que nos ultrapassam, de uma certa elevação, é o mesmo, quando vivido pelo indivíduo. Seja em prol de uma religião, ou de uma ideologia.
Sim, a abordagem teológica é interessante, em alguns casos fulcral, mas também limitadora para o exercício que procurei fazer.
O conceito de Deus não é o mesmo, certamente, mas isso é uma questão de semântica, não é importante. No fundo, é querer chegar ao último andar do edifício sem querer subir as escadas, e conhecer os anteriores. E como disse em cima, esse conceito foi engendrado pela Humanidade. Não tem razão de ser, sequer. Insistimos em tentar compreender as coisas à nossa imagem. Erro. Desculpável, mas ainda assim, um erro. Todas as espécies o fazem. O que julgará um gato quando nos interpreta?
Não há elevador, meus caros, portanto, há que explorar os andares intermédios. Aliás, convenhamos, a espécie humana é mais aparentada com as restantes bestas que passeiam pelo planeta, que propriamente com entidades que eventualmente se movam em outras essências e dimensões. A arrogância do nosso racionalismo segue em força.
Claro que, como em tudo, os seres humanos não são criaturas iguais entre si.
A recente universalidade da Religião inquinou muitas discussões à partida.
A noção de alma, ou espírito individual, entidade eterna, com as mesmas possibilidades para todos na morte, só mais tarde foi introduzida na religião. Talvez ao mesmo tempo que a noção de Democracia na política (Grécia), mas, em qualquer caso, depois do Antigo Império de Mênfis.
O Cristianismo popularizará a imortalidade da alma individual, o que facilitará a sua difusão. Primitivamente, as sociedades não tinham religiões igualitárias. Estas explicar-se-ão melhor por comparação com as civilizações de insectos do que com as sociedades humanas da história recente.
Jean Louis Bernard, Historiador.
Excerto do seu livro, "As Origens do Egipto."
É uma grande verdade, isto.
A individualidade é também uma ilusão. Nós não existimos da forma como arrogantemente julgamos. Embora, algumas energias e manifestações de realidades existenciais dignas desse nome, estejam mais presentes numas criaturas do que em outras.
Não somos ninguém, mas somos alguma coisa, sim. E o que eu quis exaltar foi isso: a busca pelo conhecimento, que não está só no exterior, na História, na Documentação, mas também dentro de nós. Ou de alguns de nós. Interpretações diferentes dos mesmos sentimentos, estados de espírito, vontades e descobertas, volto a insistir.
E não esquecer mencionar outras formas de conhecimento: o hermetismo, a alquimia, a magia, etc, etc. Praticadas pelos meus/nossos antecessores pagãos com grande mestria.
E enquanto damos voltas intermináveis ao mesmo circuito, esquecemo-nos que certos vectores do conhecimento, e caminhos de elevação já estiveram mais próximos da nossa espécie do que estão agora.
No entanto, certas realidades nunca estiveram ao nosso alcance, naturalmente. Nem nunca estarão.
Conheço essa afirmação do Carl Sagan. Suponho que podemos aplicá-la também a quem defende sociedades de inspiração igualitária e marxista, talvez? Gosto do Carl Sagan, ele não negava á partida hipóteses que, academicamente, são possíveis. Tinha uma mente mais aberta do que aparentava. Mas é irrelevante para o conjunto de assuntos que tento focar e exaltar neste tópico.
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Algumas reflexões e constatações acerca de Ateísmo, Monoteísmo e Politeísmo. Seg Ago 15, 2011 9:58 am
Aelle escreveu:
Eu não pretendo provar a existência de Deus, nem pouco mais ou menos. O próprio conceito é uma invenção humana, uma tentativa de compreensão de algo que não está ao nosso alcance, Averróis. Quis exemplificar, identificar. Constato, sim, que o Cosmos é uma realidade. Ou antes, não necessariamente! Se entendermos todo o conceito existencial como uma espécie de realidades encaixotadas umas nas outras, (pensa nas Matrioshkas russas), este mesmo estágio poderá ser uma espécie de ilusão. O próprio tempo, a matéria, o espaço, etc, etc. Mas isso já é outra discussão. É verdadeiramente incrível a ignorância (não me refiro à académica) e arrogância limitadoras que grassam pela Humanidade. Bom, incrível não diria, mas sempre revoltante, em todo o caso.
Nem eu pretendo provar a inexistência de Deus, nem pouco mais ou menos. Sim, o próprio conceito é uma invenção humana. Todos nós nos cingimos a conceitos e linguagem que sejam o mais compreensíveis possível para nós, enfim, linguagem humana... Cingimo-nos muito a padrões e aplicamos e compreendemos as coisas por aproximação. É muito mais fácil aprender as coisas por comparação do que tentar aprender sem qualquer base de comparação... Nós precisamos de pontos de partida, senão a nossa compreensão revela-se aquilo que ela é realmente: finita, limitada. Aliás, do ponto de vista epistemológico até o conhecimento começa por ser uma crença. Só que ao contrário das outras crenças injustificadas, o conhecimento é uma crença que foi validada e confirmada à luz da natureza/realidade das coisas, da melhor maneira possível. O conhecimento nasce da fusão da crença com a justificação perante a realidade. Se o conhecimento estiver errado, então não é verdadeiro conhecimento, pois não condiz com a realidade/verdade. Uma regra básica epistemológica: o conhecimento não pode ser formado a partir da irrealidade/inverdade. Portanto sim, estamos dependentes da nossa compreensão.
Em relação à existência ilusória e a realidade à nossa volta, isso já lida com a ontologia. Hehe. É sem dúvida matéria para outro tópico diferente.
Aelle escreveu:
A maneira como abordamos e compreendemos certos temas também está subordinada e relacionada com a nossa essência cósmica e espiritual. E aí entra a astrologia, que é muito ridicularizada pelas religiões ateias. Sim, religiões, repito. Porque o sentimento dessas pessoas é o mesmo. É exactamente o mesmo. Os mecanismos, as respostas, os sentimentos que são activados, não diferem. E é a isto que me refiro, é isto que me interessa, nesta discussão.
Olha que não. Facto: O Taoismo é uma religião ateia e é a fonte do horóscopo chinês, um dos mais seguidos no mundo. Como é que não diferem as ideias entre os ateus? As religiões ateias que referi (Taoismo, Jainismo, Confucianismo, Budismo, Movimento Raeliano) são todas diferentes entre si e vêem as coisas de forma muito diferente. Aliás, muitos ateus irreligiosos têm diversos pontos de vista relativamente ao assunto do sobrenatural. Há ateus que acreditam em reencarnação, há ateus que acreditam no sobrenatural, etc... A única coisa que há em comum nos ateus é apenas uma pequena coisa: ausência de crença na existência de Deus. Nada mais. Tudo o resto é periférico e acessório. Um ateu não precisa de ser céptico, não precisa de ser 100% naturalista/materialista, nem nada que se pareça. Aliás, dentro do ateísmo há duas correntes principais: Ateísmo forte e ateísmo fraco. O ateísmo fraco é também conhecido por ateísmo agnóstico. Depois ainda há outras correntes menores como o apateísmo. Não há dois ateus iguais. Não há costumes, tradições, filosofias, ideologias políticas, sociais ou económicas, ou o que quer que seja que unam os ateus. Eu diria até que os indivíduos ateus são do mais variado que existe e vão desde indivíduos completamente descrentes, de forma compulsiva e doentia até aos mais crentes e alucinados como é o caso do pessoal do Movimento Raeliano.
Torno a referir: o único denominador comum entre os ateus é a ausência de crença na existência de Deus.
A ideia de que os ateus são indivíduos que dizem que Deus não existe e que as religiões têm de acabar é uma ideia absolutamente errada e ignorante quanto ao verdadeiro significado de ateísmo. Aliás, há muitos ateus que são ignorantes quanto ao próprio significado do termo.
Aelle escreveu:
Um Sagitário, um Aquário e um Gémeos abordarão sempre certos assuntos de uma forma mais livre e construtiva que um nativo de um signo de Terra, por exemplo. A não ser que haja ascendentes antagónicos, que enriqueçam ou empobreçam certas características da casa-mãe. Os Astros ditam a nossa natureza. Enquadremo-nos, tentemos esse impossível, que é situar-nos na nossa pequenez cósmica, e o facto de sermos subordinados a hierarquias cósmicas e energéticas mais poderosas e primordiais.
Pois olha que nem os próprios estudiosos e curiosos sobre o assunto estão de acordo entre si. Por exemplo a Urânia pode não concordar com isso, e ela estudou bastante o assunto... Talvez seja uma boa pergunta para lhe fazeres. Já agora, como é que determinas que um Aquário e um Gémeos "abordarão sempre" certos assuntos de uma forma mais livre e construtiva que um nativo de um signo de Terra? É um facto demonstrado através de algum dado estatístico, objectivo e fiável? Ou é porque os manuais da astrologia o dizem? Há algum estudo independente que me possas indicar que verifique isso mesmo? Eu das minhas pesquisas só encontrei o efeito Forer/Barnum existente na astrologia, que considero estar bem justificado por estudos.
Aelle escreveu:
Posto isto, repito: o sentimento de fé, a busca de uma relação com realidades que nos ultrapassam, de uma certa elevação, é o mesmo, quando vivido pelo indivíduo. Seja em prol de uma religião, ou de uma ideologia.
O problema é que a fé deposita-se na especulação sobre uma suposta realidade que se diz inatingível, que nos ultrapassa. Ora é preciso uma grande dose de crença e um grande depósito de confiança nas suposições que se criam em relação a esta matéria. E isso não me parece uma forma de humildade intelectual. Em caso de desconhecimento a única conclusão a tirar é somente uma: que não sabemos. E não criar especulações e suposições injustificadas.
Aelle escreveu:
Sim, a abordagem teológica é interessante, em alguns casos fulcral, mas também limitadora para o exercício que procurei fazer.
O conceito de Deus não é o mesmo, certamente, mas isso é uma questão de semântica, não é importante.
Claro que é importante. Não é apenas uma diferença de semântica, longe disso. É uma diferença a todos os níveis. Que vai até ao cerne da natureza de Deus, as diferenças são profundas entre todas as definições de Deus. Não são reconciliáveis, a não ser com uma boa dose de cherry picking. Aliás, muitas das guerras religiosas ocorrem exactamente por causa disso. Se toda a gente cresse no mesmo Deus, não haveria razões para tanta discórdia. Até dentro do politeísmo os diferentes Deuses são todos bem delimitados e diferentes entre si. Quanto mais para além de um único conceito de crença.
Aelle escreveu:
No fundo, é querer chegar ao último andar do edifício sem querer subir as escadas, e conhecer os anteriores. E como disse em cima, esse conceito foi engendrado pela Humanidade. Não tem razão de ser, sequer. Insistimos em tentar compreender as coisas à nossa imagem. Erro. Desculpável, mas ainda assim, um erro. Todas as espécies o fazem. O que julgará um gato quando nos interpreta?
Não há elevador, meus caros, portanto, há que explorar os andares intermédios. Aliás, convenhamos, a espécie humana é mais aparentada com as restantes bestas que passeiam pelo planeta, que propriamente com entidades que eventualmente se movam em outras essências e dimensões. A arrogância do nosso racionalismo segue em força.
Tens algum ponto de partida a sugerir? É que acho que a humanidade ainda não se decidiu a onde começar e o que estudar para compreender de uma vez por todas se Deus existe ou não.
Já agora, atenção que na filosofia o conceito de "racionalismo" é diferente do conceito de racionalidade que usamos no dia-a-dia. Na filosofia o racionalista é aquele que acha que pode usar a Razão a priori, sem ter de investigar objectivamente primeiro. O racionalismo, tal como o idealismo, é oposto ao empirismo e ao materialismo/naturalismo, é assumir que a mente pode compreender as coisas sem ter de estuda-las objectivamente... E isso normalmente dá mau resultado. O empirismo é, até ao momento, a ferramenta mais frutífera de construir conhecimento e compreender as coisas da maneira mais profunda, fiável e sólida.
Aelle escreveu:
Claro que, como em tudo, os seres humanos não são criaturas iguais entre si.
A recente universalidade da Religião inquinou muitas discussões à partida.
A noção de alma, ou espírito individual, entidade eterna, com as mesmas possibilidades para todos na morte, só mais tarde foi introduzida na religião. Talvez ao mesmo tempo que a noção de Democracia na política (Grécia), mas, em qualquer caso, depois do Antigo Império de Mênfis.
O Cristianismo popularizará a imortalidade da alma individual, o que facilitará a sua difusão. Primitivamente, as sociedades não tinham religiões igualitárias. Estas explicar-se-ão melhor por comparação com as civilizações de insectos do que com as sociedades humanas da história recente.
Jean Louis Bernard, Historiador.
Excerto do seu livro, "As Origens do Egipto."
É uma grande verdade, isto.
Hmm, então e o Hinduísmo? O Hinduísmo é das religiões mais antigas ainda em actividade, estima-se que tenha cerca de 7000 anos de existência. Seja como for é uma certeza que é muito mais antigo que o Cristianismo e que o próprio Judaísmo. E no Hinduísmo existe o conceito de "atman", que é homólogo ao nosso conceito de alma, e também se acredita que não deixa de existir jamais.
Aelle escreveu:
A individualidade é também uma ilusão. Nós não existimos da forma como arrogantemente julgamos. Embora, algumas energias e manifestações de realidades existenciais dignas desse nome, estejam mais presentes numas criaturas do que em outras.
Referes-te a um conceito de diferenciação de valor entre a nossa vida e a dos animais?
Aelle escreveu:
Não somos ninguém, mas somos alguma coisa, sim. E o que eu quis exaltar foi isso: a busca pelo conhecimento, que não está só no exterior, na História, na Documentação, mas também dentro de nós. Ou de alguns de nós. Interpretações diferentes dos mesmos sentimentos, estados de espírito, vontades e descobertas, volto a insistir.
Mas nós somos seres com uma compreensão finita. Dentro de nós não encontramos mais do que aquilo que o nosso cérebro interpreta de forma errada e superficial. O que nos torna fortes a nível de conhecimento é exactamente a capacidade de transmitir uns aos outros a história e a documentação, o conhecimento. As referências do conhecimento para que cada pessoa que nasça não tenha de recomeçar do zero e ter de voltar a inventar a roda. A desvantagem de outros animais é essa: incapacidade de deixar registos adicionais para as novas gerações, estão dependentes do que se aprende por imitação imediata ou por instinto, sem bases adicionais. Se nós não tivéssemos a capacidade de transmitir conhecimentos através da educação e da exteriorização da informação para um suporte transmissível, estaríamos muito limitados e jamais teríamos a compreensão que temos, por exemplo, para estar agora a falar por texto num computador. Em relação às diferentes interpretações... Isso já acontece. Fazemo-lo a todo o instante. Por isso é que temos opiniões tão dispares acerca de coisas tão elementares.
Aelle escreveu:
E não esquecer mencionar outras formas de conhecimento: o hermetismo, a alquimia, a magia, etc, etc. Praticadas pelos meus/nossos antecessores pagãos com grande mestria.
A alquimia era o estágio inicial da química. Hoje em dia a química e o conhecimento científico mostraram-se bem mais eficientes para obter resultados frutíferos, sem a necessidade de acrescentar à equação uma explicação esotérica. E tem funcionado. Veja-se o salto desde a revolução científica.
Aelle escreveu:
E enquanto damos voltas intermináveis ao mesmo circuito, esquecemo-nos que certos vectores do conhecimento, e caminhos de elevação já estiveram mais próximos da nossa espécie do que estão agora.
No entanto, certas realidades nunca estiveram ao nosso alcance, naturalmente. Nem nunca estarão.
Conheço essa afirmação do Carl Sagan. Suponho que podemos aplicá-la também a quem defende sociedades de inspiração igualitária e marxista, talvez? Gosto do Carl Sagan, ele não negava á partida hipóteses que, academicamente, são possíveis. Tinha uma mente mais aberta do que aparentava. Mas é irrelevante para o conjunto de assuntos que tento focar e exaltar neste tópico.
Sim, antes de especular convém ter dados palpaveis. Não basta apenas criar uma utopia mental e acreditar que ela é possível, primeiro é preciso experimentar e analisar. A conclusão vem no fim e não à partida. Qualquer pessoa que tente formar uma conclusão à partida e só depois buscar a justificação racional para essa conclusão, está a colocar a carroça à frente dos bois.
Carl Sagan, foi dos principais cientistas modernos a preocupar-se em desmistificar alguns mitos. Um dos mitos que se dedicou a desmistificar foi o mito de dizer-se que os cientistas acham que já conhecemos tudo e já não há mais nada a conhecer, o que obviamente não é verdade. Nenhum cientista moderno que se preze dirá isso.
A propósito, já que tem a ver com o tema que estamos a abordar: Será que conseguimos compreender e conhecer o universo?
Aelle Mestre
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Assunto: Re: Algumas reflexões e constatações acerca de Ateísmo, Monoteísmo e Politeísmo. Sáb Ago 20, 2011 12:26 pm
Hum, já desenvolvemos aqui vários assuntos e sub-temas que podem dar outros tantos tópicos, bastante interessantes e produtivos.
É fazê-lo!
No entanto, relativamente a "Deus" (E não Deuses! Penso que há uma confusão errada, no que toca a hierarquias cósmicas, da parte de demasiadas pessoas. Tanto pagãos, como cristãos, ateus, ou outros dignos cidadãos quaisquer, com ou sem rótulos.): sendo uma concepção abstracta, especulativa, sujeita portanto, a várias interpretações (ou seja, no fundo, à imaginação humana), há algo com o qual podemos, logica e objectivamente concordar:
O conceito de "provas" relativamente a uma realidade que nos ultrapassaria, e estaria para além do nosso estágio, é, no mínimo, arrogante, à nossa escala existencial, julgo eu! E sublinho: realidade, não entidade. Para mim, Deus, para já, é o conceito de Cosmos, no entanto, não ponho de parte a hipótese, de haver, como já referi, outros estágios existenciais (a metáfora da Matrioshka), ao qual se poderá aplicar melhor esse exercício de pensamento. No fundo acaba por ser isso.
Mas, com efeito: Nós, pequenos insectos (nem isso?) iludirmo-nos, julgando que é possível "provar" (risos!) a existência de certas essências, para as quais, provavelmente, o próprio Universo que conhecemos é uma migalha, é engraçado, sim. E sim, aí é que se fazem sentir certas diferenças entre uns indivíduos e outros. As sensações e percepções são outras, tem a ver com muitos outros factores. Como já disse, é pegar nos tópicos, e abrir discussões!
E claro, saúdo-te Averróis, por seres sempre um excelente interlocutor; indiscutivelmente! A maioria das pessoas são apáticas e entediantes. Tu dás réplica, abres e enriqueces o debate. Independentemente de tudo o resto, diferenças de opinião, e formas de encarar as coisas, em que nos situamos em pólos completamente diferentes. Não digo opostos, mas distintos.
Os meus cumprimentos, aborreço-me facilmente, fico contente por contribuíres para a sensação contrária.
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
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Assunto: Re: Algumas reflexões e constatações acerca de Ateísmo, Monoteísmo e Politeísmo. Sáb Ago 20, 2011 1:32 pm
Aelle escreveu:
Hum, já desenvolvemos aqui vários assuntos e sub-temas que podem dar outros tantos tópicos, bastante interessantes e produtivos.
É fazê-lo!
No entanto, relativamente a "Deus" (E não Deuses! Penso que há uma confusão errada, no que toca a hierarquias cósmicas, da parte de demasiadas pessoas. Tanto pagãos, como cristãos, ateus, ou outros dignos cidadãos quaisquer, com ou sem rótulos.): sendo uma concepção abstracta, especulativa, sujeita portanto, a várias interpretações (ou seja, no fundo, à imaginação humana), há algo com o qual podemos, logica e objectivamente concordar:
O conceito de "provas" relativamente a uma realidade que nos ultrapassaria, e estaria para além do nosso estágio, é, no mínimo, arrogante, à nossa escala existencial, julgo eu! E sublinho: realidade, não entidade. Para mim, Deus, para já, é o conceito de Cosmos, no entanto, não ponho de parte a hipótese, de haver, como já referi, outros estágios existenciais (a metáfora da Matrioshka), ao qual se poderá aplicar melhor esse exercício de pensamento. No fundo acaba por ser isso.
Efectivamente podemos colocar milhões e milhões de hipóteses sobre todo o tipo de coisas que podem ou não existir. Não haveria forma de pararmos se fossemos colocar todas essas hipóteses e querer igualá-las, em termos de valor, às explicações mais consistentes que temos até ao momento. A questão que quero referir aqui é: Será que temos razões e justificações suficientemente fortes para colocar tal hipótese sobre a possibilidade da existência de Deus? Se não é possível obter provas sobre o assunto e se Deus no seu conceito é, até certo ponto, incompreensível, invisível e imaterial, como é que distinguimos então a sua existência da sua inexistência? Isto é, como é que podemos confiar grandemente na sua existência ao ser assim tão indistinguível de uma inexistência, onde é que vamos buscar a justificação para começar a consolidar a sua verosimilhança, para além da simples vontade em acreditar que é alimentada somente pelo viés cognitivo de cada indivíduo? Sabemos que muitos de nós temos a capacidade para desejar acreditar na existência de algo, quer seja extraterrestres que nos visitam em naves, quer sejam almas, quer seja Deus, ou o que quer que seja que não esteja já confirmado até ao momento (de uma forma derradeira). O assunto é demasiado subjectivo e muito pouco objectivo. Como é que objectivamos essas possibilidades para além da crença injustificada?
Para alguém que seja naturalmente céptico e opte por explicações com traços naturalistas, não há qualquer justificação suficientemente sólida para dar a existência de Deus como uma realidade.
Muitas vezes pedem a ateus para provar que Deus não existe. Mas os ateus não têm nada a provar, não são eles que estão a alegar a existência de algo extraordinário, estão simplesmente a recusar acreditar e aceitar a hipótese avançada por quem a firma de que Deus existe. Não é possível refutar a existência de conceitos deste tipo, pois o ónus da prova nunca recai no indivíduo que descrê na existência de algo abstracto, invisível e incognoscível que alguém se lembrou de dizer que existe.
Quem tem o ónus da prova é quem alega ter forma de determinar que algo existe mesmo. É essa pessoa que tem de demonstrar para as outras que aquilo que afirma é verdade e não é apenas algo fabricado pela sua imaginação e vontade em acreditar.
Mais ainda: Será que todas as hipóteses têm o mesmo valor e a mesma verosimilhança? Ou será que há algumas mais credíveis que outras? Como fazemos para determinar a credibilidade de uma hipótese?
Aelle escreveu:
Mas, com efeito: Nós, pequenos insectos (nem isso?) iludirmo-nos, julgando que é possível "provar" (risos!) a existência de certas essências, para as quais, provavelmente, o próprio Universo que conhecemos é uma migalha, é engraçado, sim. E sim, aí é que se fazem sentir certas diferenças entre uns indivíduos e outros. As sensações e percepções são outras, tem a ver com muitos outros factores. Como já disse, é pegar nos tópicos, e abrir discussões!
Somos minúsculos, o nosso sistema solar é como um grão de areia no meio de um deserto, aliás, mais que isso. É simplesmente inefável e impossível de compreender o quão minúsculos somos nesse aspecto. A questão é que quem afirma que Deus existe, está a chegar-se à frente e a apresentar uma hipótese. Mais ainda: Apresenta-se frequentemente como um portador de uma certeza (portador da Gnose) relativamente a essa existência, alegando que não há dúvidas algumas de que Deus existe mesmo. Eu questiono-me: como é que essa pessoa obteve justificação para tal? Se essa justificação é brutalmente sólida, categórica e irredutível, porque não apresentá-la às restantes pessoas para que a existência de Deus fique provada de uma vez por todas? Mas infelizmente, até ao momento, a única coisa que vi foi a vontade do sujeito em acreditar nisso, mas jamais guarnecida com uma justificação irrecusável para além da validação pessoal dúbia que o indivíduo tem feito, alegando acontecimentos como coincidências ou alegadas ajudas por parte de uma mão divina.
Pessoalmente a minha opinião é a que já afirmei: Sem justificação não há necessidade impreterível de colocar a existência de Deus como algo verdadeiramente verosímil, quanto mais como uma certeza... Não digo que Deus, seja qual for o conceito, não exista, mas até ao momento não tenho razões para acreditar nisso e concertar a minha vida e as minhas filosofias em torno dessa crença, embora não tenha nada contra quem o faz.
Aelle escreveu:
E claro, saúdo-te Averróis, por seres sempre um excelente interlocutor; indiscutivelmente! A maioria das pessoas são apáticas e entediantes. Tu dás réplica, abres e enriqueces o debate. Independentemente de tudo o resto, diferenças de opinião, e formas de encarar as coisas, em que nos situamos em pólos completamente diferentes. Não digo opostos, mas distintos.
Os meus cumprimentos, aborreço-me facilmente, fico contente por contribuíres para a sensação contrária.
Obrigado, digo o mesmo acerca da tua postura, pois das poucas vezes que por cá passas é para abrir tópicos de debate interessantes (pelo menos na minha óptica). O que é sem dúvida positivo, tendo em conta os períodos de quase inactividade do fórum (em matéria de troca de opiniões sobre este tipo de assuntos) que só são contornados com posts ligeiros de vez em quando. E se não tivesses uma opinião inversa ou distinta da minha em diversos assuntos a conversa não seria tão interessante pois estaríamos somente a partilhar ideias no mesmo sentido, para obter pouco mais que um acenar de cabeça em tom afirmativo. Interessante é haver diálogo e esgrima de opiniões diferentes, pois isso representa um desafio e ajuda a fortificar ou a questionar as nossas opiniões, é algo sempre saudável quando é feito de forma respeitável e assertiva.
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Assunto: Re: Algumas reflexões e constatações acerca de Ateísmo, Monoteísmo e Politeísmo.
Algumas reflexões e constatações acerca de Ateísmo, Monoteísmo e Politeísmo.