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Assunto: Reciclagem: Quem faz a separação do lixo? Seg Dez 12, 2011 3:58 am
A semana passada foram retirados alguns dos vários contentores do lixo residencial que costumavam estar à entrada da rua e que estavam sempre atulhados de lixo até sair por fora. Muitos dos meus vizinhos queixaram-se de que agora não sabiam onde colocar o lixo. Eu não percebo como é que eles não sabem onde colocar o lixo, mas ao mesmo tempo percebo: é que eles não fazem a separação do lixo (não estão para se dar ao "trabalho", pois custa muito meter lixo em caixotes diferentes e depois deslocar-se até ao ecoponto mais próximo) e como tal produzem uma grande quantidade de lixo (supostamente) "orgânico", enquanto que no meu caso o lixo orgânico ocupa, quanto muito, um saco pequeno, que se fosse preciso até cabia facilmente num daqueles mini contentores das paragens de autocarro e postes diversos. A maioria do lixo acaba por ir para o papelão, contentor dos plásticos/embalagens ou vidrão.
A pergunta que fica aqui para o pessoal do fórum é: Fazem a separação do lixo ou nem por isso? E caso não façam, porque é que não o fazem?
Urânia Rei/Rainha
N. de Mensagens : 1298 Idade : 38 Raça : Elfo Elemento : Ar Deus : Urano (Céu/Elevação/Perfeição) Cor : Verde
Assunto: Re: Reciclagem: Quem faz a separação do lixo? Seg Dez 12, 2011 10:50 am
Topico muito pertinente @averróis. Eu vou contribuir com uns videos que tu já deves conhecer.
E começando por responder à tua pergunta, eu antigamente fazia reciclagem até que...
Durante muitos anos acreditei na reciclagem e fazia-a com convicção porque acreditava que estava a contribuir para o bem do ambiente. Hoje em dia tenho a fé abalada na reciclagem e tenho muitas dúvidas em relação às intenções e aos reais impactos da reciclagem no meio ambiente e na saúde.
Sabemos que "reciclar é bom para o ambiente", mas não nos informam de como estes processos se realizam e da qualidade e segurança dos materiais reciclados. E portanto opto grande parte das vezes por não a fazer, com excepção das pilhas, do vidro e do óleo vegetal.
Não posso deixar de acrescentar aqui dois comentários que estão num dos videos do youtube:
Citação :
"The problem on the consumer end, I think, is that people forget that the three R's are listed in order of importance. You need to START by Reducing your consumption of wasteful packaging so less trash gets generated in the first place (e.g stop buying so much bottled water). NEXT, Reuse the packaging in any way that makes sense (e.g. refill water bottles multiple times). Then, and only then, should you even be thinking about Recycling. If you do it backwards, you might as well not do it at all."
Citação :
"The ONLY way to truly help the environment is to COMSUME LESS. Reduce your consumption. That's it. That's the answer. Don't buy bottled water. Don't buy a TV/stereo/iPod. Don't read the paper. Don't buy a new car (especially don't be stupid enough to think that selling your old car and buying a Prius is a good idea.....fuck you Toyota)."
Devo dizer que mesmo sabendo disto tudo, por vezes me sinto "culpada" por não fazer reciclagem. Mas realmente, deixou de fazer sentido.
Spoiler:
É caso para dizer:
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Reciclagem: Quem faz a separação do lixo? Seg Dez 12, 2011 1:21 pm
Obrigado pelo comentário, Urânia, será sem dúvida interessante para levantar o debate neste tópico e para questionar muita coisa, o que é bom. Antes de mais devo dizer que concordo com esse comentário dos 3 "R's". Sem dúvida que a filosofia deve ser seguida na seguinte ordem: Reduzir, reutilizar e, por fim, reciclar. Os dois primeiros não têm qualquer inconveniente, só têm vantagens. Já no caso da reciclagem, infelizmente necessitamos de grandes quantidades de energia para poder transformar o material usado em material novo.
É verdade que alguns aspectos na reciclagem podem não corresponder à ideia daquilo que temos delas. Contudo repare-se no seguinte: As embalagens de alumínio -- e outros metais -- são rentáveis de se reciclar, pois os custos de minagem são bastante elevados. Toda a infraestrutura de extracção de metais a partir da natureza tem um custo bastante acentuado. É provavelmente o tipo de reciclagem que mais se justifica fazer. A reciclagem de plásticos (por exemplo garrafas/garrafões de plástico) é útil para produzir matéria para o fabrico de cordas, sacos de plástico, fibras sintéticas para fabrico de tecidos, etc. Tudo isso com relativo baixo custo: dando uma reutilização à matéria que de outra forma seria depositada em lixeiras.
E o maior problema de negligenciar a reciclagem, a meu ver, é que se continuarmos a não reaproveitar matéria nenhuma que já tenha sido processada, temos um problema de uma produção crescente de lixo que vai sendo acumulado e que não é propriamente biodegradável. É pegar em matéria útil e transformar em matéria supostamente inútil. A reciclagem serve principalmente para isso: para minimizar essa inutilização da matéria, tanto quanto possível... é uma tentativa de deixar de descartar automaticamente à primeira utilização a maior parte dos materiais mais comuns que deitamos para o lixo. Em certos casos pode até pode ser mais rentável fabricar alguns materiais a partir de matéria prima virgem, não processada ainda, mas em termos ambientais isso é um problema a longo prazo já que é estar perpetuar um vício de produção contínua a partir de nova matéria prima enquanto a velha não tem mais nenhum seguimento senão ser depositada em aterros onde será negligenciada, demorando largos anos até que a natureza dê conta dela. A produção de gás metano a partir dos aterros só é verdade apenas para a matéria orgânica (cascas de banana, restos de comida, etc), que vai libertar o gás ao ser decomposta.
Em Portugal temos até um aspecto inovador: reciclagem de cortiça, na qual fomos pioneiros, e cujo principal benefício a ter em conta é o factor tempo: é a rapidez com que se produz novo material isolante a partir dos desperdícios, reduzindo e muito o tempo que de outra forma levaria a produção natural de cortiça a partir do normal crescimento da casca do sobreiro. http://ambiente.kazulo.pt/5855/portugal:-pioneiro-em-reciclagem-de-residuos-de-cortica.htm
Sei por exemplo que existem infracções em matéria de e-waste, que algumas empresas dizem reciclar os teclados, ratos, ecrãs/televisores, e outro material informático, para além de vários outros electrodomésticos, mas que na verdade acabam por ser são enviadas para África ou Índia para serem colocados ao monte, onde serão muitas vezes as pessoas (incluindo crianças) que vão para lá em condições subhumanas, expostas a perigos, sem a devida protecção, para aproveitar certos materiais como o cobre, que são mais rentáveis a título imediato. Nesse aspecto devia haver um controlo/fiscalização muito apertado, que puna aqueles que dizem fazer uma coisa e que depois fazem outra.
Veja-se o que acontece ao e-waste:
Um aspecto que foi negligenciado nos vídeos de Penn & Teller que colocaste: é óbvio que há custos para reciclar, se calhar até maiores em alguns tipos de matéria do que na sua produção regular. Mas pelo menos o material continua num ciclo útil onde poderá voltar a ser usado e mais: gerar lucro na mesma, depois de voltar a ser vendido. Portanto os custos de reciclagem a longo prazo acabam por ser compensados pela produção de novos produtos que, ao serem vendidos, vão cobrindo esses custos de reciclagem. A longo prazo temos menos matéria inutilizada com a reciclagem e penso que esse é o objectivo primordial do conceito. É usar o lixo para fazer algo que volta a ser produtivo e rentável.
Para contrariar um pouco os vídeos que colocaste, coloco aqui a seguinte informação:
Citação :
Recycling still the most effective waste disposal method, report finds Report for UK government refutes persistent claims that recycling is a waste of time, calls for better facilities and an increase in incineration
Recycling is almost always the best way to get rid of waste, even when it is exported abroad, according to the biggest ever report on the industry for the UK government.
The report, which addresses persistent claims that householders are often wasting their time recycling, calls for better recycling facilities but also an increase in incineration of waste, an option that is opposed by many environment groups.
It also backed up last week's controversial report published by the Department for Environment Food and Rural Affairs warning that biopolymer plastics made from crops should be recycled rather than put into compost, despite being widely marketed as "biodegradable".
Wrap, the government's waste and packaging agency, said it had analysed 200 reports covering seven different materials: paper and cardboard, plastics, biopolymers, food, garden cuttings, wood and textiles. The experts then looked at the evidence for seven methods of disposal, including recycling, composting, incineration and landfill, measured by four different criteria: energy use, water use, other resource use, and greenhouse gas emissions.
In more than four out of five cases, recycling was the clear winner, said Keith James, Wrap's environmental policy manager.
But there were "different messages" for different materials, said James.
"For biopolymers, I think the preferable option is recycling, which isn't what people have commonly thought," he said.
"For textiles, there's not very many statistics, but what there is shows reuse is clearly optimal, followed by recycling and then energy recovery [incineration].
"For food and garden waste, anaerobic digestion looks preferable; then composting and incineration with energy recovery come out very similar.
"For plastics, we have got strong evidence this time that recycling is the better option, because recycling has improved.
"For wood, recycling looks preferable.
"For paper and cardboard, what the statistics throw out is the importance of quality: the higher the quality [paper and cardboard], the better it is to recycle, but as you go down to the lower end, energy recovery [incineration] may be preferable."
The good showing for incineration – preferred for a small number of items and often the next best option after recycling – will be controversial with some environmental campaigners who worry about the pollution from recycling plants, and that incineration becomes an easy option that deters investment in proper recycling.
However, the option of incineration was only preferred when it was using the best technology and generating energy, preferably energy that was directly replacing fossil fuel use, which is blamed for the greenhouse gas emissions that help cause global warming, said James.
"Energy recovery has a role to play, and if we're trying to divert more waste from landfill, we need to increase recycling and increase some energy recovery. But we need to make sure we get the right technologies," he said.
As well as analysing recycling in the UK, the study also considered the impact of transporting waste to other countries – often China – for recycling. It found that overseas transport was still better than sending it to landfill.
"The important thing is, because we're in an international economy ... [that if] we're sending metal back to China for recycling, it's coming back around the circle again," said James.
Ler o resto em: http://www.guardian.co.uk/environment/2010/mar/16/recycling-waste-disposal
Estudo sobre os benefícios da reciclagem segundo os diferentes materiais, onde se pode consultar o que se gasta e o que se obtém de proveito com o processo: Destaque para a página 4.
Outro estudo que compara as perdas e ganhos dos diferentes tipos de materiais reciclados, com foco em 4 tipo de indicadores ambientais: poupança de espaço, gases de efeito-estufa, conservação de energia e poupança de água. http://www.environment.nsw.gov.au/warr/BenefitRecycling.htm
Mais: Relatório das Nações Unidas.
Citação :
Too much metal is being thrown away when it could be recycled, wasting an opportunity to save energy and risking shortages in materials used for new green technologies, a UN report warned Thursday.
In a landmark study, the first to outline the extent to which metals are collected, the UN Environment Programme (UNEP) found that less than one third of about 60 metals studied are recycled to any significant degree.
This is frustrating because recycling reduces the need for energy-intensive mining - the report says extraction alone currently accounts for seven percent of the world's energy consumption.
"In theory, metals can be used over and over again, minimising the need to mine and process virgin materials and thus saving substantial amounts of energy and water while minimising environmental degradation," said Achim Steiner, UN Under-Secretary General and UNEP executive director.
"Raising levels of recycling worldwide can therefore contribute to a transition to a low-carbon, resource-efficient green economy while assisting to generate 'green jobs'."
Lead is the most recycled metal, according to the report compiled by UNEP's International Resources Panel, with nearly 80 percent of products containing lead - mainly batteries - used again.
E para terminar gostaria ainda de fazer lembrar que a partir da reciclagem, e com um pouco de engenho, também se pode produzir outro tipo de produtos benéficos como se pode ver abaixo:
Kraft durch Freude Herói/Heroína mitológic@
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Assunto: Re: Reciclagem: Quem faz a separação do lixo? Seg Dez 12, 2011 11:35 pm
Eu tento utilizar o mínimo possível, reutilizo e reciclo. Quanto ao vídeo dos senhores mal-educados e que falam como se estivessem a fazer birra, reparei que utilizam alguns argumentos que me parecem falaciosos. Que a reciclagem nem sempre é economicamente melhor do que outras soluções acho que não é novidade nenhuma. Que há muita gente a aproveitar-se do trabalho gratuito que nos põem a fazer quando dividimos os materiais para reciclar também não. E que a reciclagem não é uma solução para salvar a Terra e que não vai resolver todos os problemas da humanidade... Também não me lembro de ser um argumento muito utilizado...
O facto primordial, e que me pareceu que não cobriram, é que os recursos que são utilizados para produzir os plásticos, o papel, os materiais electrónicos... Não são infinitos. Acho que a reciclagem sempre foi apresentada como "um mal menor". Muito mais do que para os restantes argumentos que apresentaram. Não é solução nenhuma. Mas é uma forma de estender um pouco o tempo que temos até esmifrar os recursos do nosso planeta. Não percebo como é que, ao utilizar sempre mais recursos sem reutilizar os já existentes, pensam que podem ter um sistema sustentável. Nem com reciclagem é. Mas pelo menos, a meu ver, torna-se menos agressivo. E quanto à plantação de árvores para o papel... Não me gozem. Alguma vez um produtor de papel, se não for obrigado a isso, vai estar a plantar árvores quando tem uma floresta Amazónica inteira e imensas florestas em África desprotegidas para poder deitar abaixo sem ter de prestar contas a alguém? Right...
Averróis Deus(a) da Lua (moderação)
N. de Mensagens : 3508 Idade : 825 Local : Córdoba
Assunto: Re: Reciclagem: Quem faz a separação do lixo? Seg Dez 12, 2011 11:57 pm
Kraft, em relação ao papel: É verdade que muitos produtores de papel sem escrúpulos preferiam antes ir à madeira desprotegida, como tem acontecido. Mas infelizmente creio que isso é verdade com ou sem reciclagem. Não sei até que ponto é que a reciclagem de papel conseguiria impedir ou reduzir substancialmente essa exploração. Estamos a falar de uma indústria que não tem propriamente compaixão com os seus trabalhadores ou com o meio ambiente. Se alguns cumprem com as normas é por mero receio de serem levados à justiça por conduta danosa.
Kraft durch Freude Herói/Heroína mitológic@
N. de Mensagens : 2054 Raça : Ent/Povo das Árvores Deus : Ares (Guerra/Heroísmo/Conquista)
Assunto: Re: Reciclagem: Quem faz a separação do lixo? Ter Dez 13, 2011 12:08 am
Exactamente. Nem eu disse que é por haver reciclagem que isso deixa de acontecer. Disse que ajuda a que não cresça a um ritmo tão acelerado. Mas não deixaste de tirar razão aos senhores zangados. É falso que a indústria do papel, com árvores como matéria prima, ajude a criar mais árvores e contribua para um sistema mais equilibrado.
Enquanto ouvia dizer que para produzir papel é necessário plantar árvores e que isso é sustentável... (Aqui talvez alguém como o Signatus consiga falar com mais conhecimento de causa do que eu, mas) não me saía da cabeça o facto de um ecosistema não se fazer à pressão. A "sustentabilidade" de uma floresta para produção de papel é feita com árvores de crescimento rápido. O objectivo não me parece ser a criação de habitats completos, com respeito por uma fauna e flora diversificados. Basicamente o que isto significa são matas de eucaliptos que substituem ecosistemas milenares... Assim são mais "sustentáveis"...
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Assunto: Re: Reciclagem: Quem faz a separação do lixo?