Podemos salvar o Mundo comendo insectos e bebendo urina

Já vi algumas reportagens sobre isto, mas penso que nunca se falou aqui.
O que acham da ideia? Pessoalmente, a parte da água não me faz muita confusão; a dos insectos deixa-me com algumas reticências, mas acho que não me importava de provar.

http://www.wired.com/wiredscience/2012/08/st_essay_ick_factor/

Citação :

We Can Save the World by Eating Bugs and Drinking Urine

It’s only a matter of time before Earth’s growing population faces a critical shortage of potable water. Luckily, science has a foolproof solution. A process called reverse osmosis can convert wastewater into H20 that’s as pure as the distilled stuff—even cleaner than what we usually drink. There’s just one problem: persuading people to drink liquid that used to be urine. After all, humans tend to pooh-pooh (pun intended) anything they find disgusting.

That repulsion response evolved to help us avoid ingesting things that are potentially dangerous. (Rotten food grosses us out for a reason.) But if humanity is going to survive, we may have to learn to overcome the ick factor.

University of Pennsylvania professor Paul Rozin (nicknamed the King of Disgust) has been examining this issue for decades. In a 1986 study, he asked students to drink a cup of juice and rate it. Once that was done he put a cockroach into a cup of the same juice, stirred it around a bit before removing it, and asked them to drink. The bug was dead, and he assured them that it had been sterilized. But not surprisingly, almost no one wanted a sip. In their mind, the cup was contaminated. So Rozin took a brand-new, clean cup and poured fresh, uncontaminated juice into it. This last cup of juice scored lower ratings. The repulsion was so intense that it tainted unrelated objects.

A cockroach in your drink is gross, but a grasshopper on a stick could be lunch. Crickets are extremely high in calcium. Caterpillars are a fantastic source of iron, thiamin, and riboflavin. In 2010 the United Nations Food and Agriculture Organization said that humans should start farming and consuming insects to stave off the hunger and extreme demands placed on the environment by meat production. (Farming insects generates one-tenth the methane that livestock produces for an equivalent amount of foodstuffs.)

Most Western cultures won’t even consider chomping on bugs for a meal. Never mind that every day we unwittingly eat insects and other things people generally consider nasty. The FDA calls it the defect action level—canned, frozen, and dried food products are allowed to contain a certain amount of bug parts, mold, rodent hairs, larvae, and mammalian feces. Apple butter, for instance, may contain up to five whole insects per 100 grams.

It’s not impossible to change society’s mind about what’s revolting, but it’s definitely difficult. According to the King of Disgust, we aren’t likely to make dramatic changes in what we eat until circumstances are dire. However, Rozin says, you could desensitize people over a long period of time. “Marketing can do a lot of this,” he says. “Overcome the disgust memory. It’s a basic form of psychotherapy.”

The trick to introducing these world-saving techniques, he says, will be a gradual acculturation. That method worked wonders in Singapore, where access to fresh potable water has become a serious concern. To solve the problem, the public utilities board created NEWater. Four treatment plants throughout the country take sewage, filter it through several membranes, and expose it to ultraviolet light to make it safe to drink. Now 30 percent of the country’s total water demand is met using reclaimed (i.e., recycled) sewage. The program’s success was due in part to a dedicated communications team that conducted a massive public education campaign, which included a TV documentary. But Singapore also made the decision to release the cleaned-up wastewater into reservoirs, where it got re-treated along with regular tap water. This extra step was hygienically redundant but psychologically vital in helping Singaporeans accept NEWater as a fact of life. Bugs of the world, watch your backs: Slowly and purposefully, that ick factor can be overcome.

O tema também foi abordado no Earth Rise:

Tudo o que se afaste muito do que estamos acostumados a comer acaba por ser estranho, principalmente se forem insectos que os nossos pais nos ensinaram a meter à boca quando éramos crianças. Muitas crianças até têm curiosidade e experimentam comer insectos, por vezes não há assim grande repulsa inerente com essa idade.
É um cenário hipotético, mas no fundo é apenas uma questão de habituação, uma questão cultural, hábitos e costumes. Em Portugal, Espanha e França, por exemplo, comem-se caracóis... É um dos petiscos mais apreciados, com direito a tabuleta à porta a informar que "há caracóis". Quem não esteja habituado a comer caracóis facilmente considera incompreensível como é que se pode apreciar tal coisa.

Pegando neste exemplo dos caracóis dá para perceber a extrema importância da questão cultural, os padrões que são aceites e adquiridos, com os quais vivemos. É uma questão deles mudarem e depois de umas gerações já ninguém acha estranho comer insectos.

Em relação à água reciclada a partir do esgoto, é mais uma vez uma questão psicológica. Quando está demonstrado em análises clínicas que é apenas água normal, potável, a única coisa que resta mesmo é o condicionamento psicológico. Isso é irónico porque, por outro lado, esquecendo-nos facilmente que toda a água que consumimos actualmente já foi consumida e excretada por várias formas de vida, incluindo os humanos, repetidamente. A diferença é que a água que consumimos foi filtrada pela terra, através do normal ciclo da água, e depois, adicionalmente, pelos poços de captação da empresa de distribuição de água. A do esgoto em vez de percorrer o ciclo normal, seria reciclada directamente.

Já sei o que eu de inventar no futuro: uma maquina de transformar urina em agua potavel, basta fazela evaporar

Independentemente do que a ciencia diz, se temos repulsa por essas coisas é por algum motivo. Pode acontecer o caso de ainda não se ter encontrado nada, de prejudicial, e no futuro sim. Essa repulsa foi-nos instalada biologicamente com alguma função.

Também já ouvi dizer que a urina faz a pessoa viver mais tempo...nao acredito.

No futuro vai ser possivel controlar o tempo e fazer chover

Váli escreveu:

Já sei o que eu de inventar no futuro: uma maquina de transformar urina em agua potavel, basta fazela evaporar

Independentemente do que a ciencia diz, se temos repulsa por essas coisas é por algum motivo. Pode acontecer o caso de ainda não se ter encontrado nada, de prejudicial, e no futuro sim. Essa repulsa foi-nos instalada biologicamente com alguma função.

1 - A repulsa em comer X, Y ou Z não é, obrigatoriamente, biológica. Muitas vezes é uma mera questão de convenção social.
2 - Como disse no post anterior, há quem tenha repulsa por caracóis e não imagine ninguém a ser capaz de os comer. Outros chamam-lhe uma iguaria muito apetecível.
3 - Muitas crianças metem intencionalmente insectos à boca e ingerem-nos. (Não apenas insectos, como muitas outras coisas, incluindo coisas não-comestíveis como areia, etc.)
4 - Não sei se sabes, nem que seja através de filmes de Hollywood como o Indiana Jones, mas há culturas onde comer insectos faz parte da ementa. E não, não estamos a falar apenas de tribos de caçadores-recolectores que vivem na selva. Além disso há italianos que comem queijo com larvas de mosca, chamado "casu marzu".

Váli escreveu:

Também já ouvi dizer que a urina faz a pessoa viver mais tempo...nao acredito.

No futuro vai ser possivel controlar o tempo e fazer chover

Aqui não se trata de falar em beber urina, mas sim em beber água portável, normal, recuperada a partir da urina, sem o resto das substâncias que são de esperar na urina. Basicamente é um atalho para voltar a ter água potável ao invés de estar à espera que essa urina vá parar ao mar ou à terra, para depois evaporar, formar nuvens e voltar a cair em terra na forma de precipitação e brotar de nascentes naturais.

Váli escreveu:

Independentemente do que a ciencia diz, se temos repulsa por essas coisas é por algum motivo. Pode acontecer o caso de ainda não se ter encontrado nada, de prejudicial, e no futuro sim. Essa repulsa foi-nos instalada biologicamente com alguma função.

Citação :

That repulsion response evolved to help us avoid ingesting things that are potentially dangerous. (Rotten food grosses us out for a reason.) But if humanity is going to survive, we may have to learn to overcome the ick factor.

Protip: ler mais que o título antes de comentar.

Quanto aos insectos, o factor cultural é realmente fundamental, como disse o Averróis. Por isso, será muito importante conseguir "disfarçar" o aspecto de alimentos que causem alguma repulsa, pois isso será suficiente para levar muitas pessoas a experimentar. No exemplo dos caracóis, praticamente só se vê a casca e isso deve ter algum efeito psicológico. Apesar de ser um prato bastante apreciado, de certeza que muitas pessoas que dizem não gostar simplesmente nunca provaram porque lhes faz confusão (honestamente, não sei se um caracol cozinhado fica muito diferente do seu aspecto em vida, só provei uma vez em miúda e não é coisa que se coma em minha casa por isso nunca mais experimentei).

Eu referia-me só aos excrementos: tenho duas rolas bebes e elas sabem perfeitamente destinguir entre comida e os bocadinhos de excrementos que estão lá misturados. Quanto aos insectos existem repulsas e repulsas, não me faz confusão comer por exemplo cobra mas já baratas blahc e não me parece que seja cultural. Por exemplo os animais com cores mais vivas muitas vezes são venenosos e isso também não é meramente cultual.

Depois ja tive um passarinho bebe, que nem sequer abria os olhos quando fazia as necessidades rastejava para o outro lado do saco-de-agua (eu tinha-o num saco de agua coberto com papel) e ele fazia questão de ficar bem longe do sitio onde fazia coco e xixi, estava geneticamente programado.

Váli, os excrementos, tanto humanos como animais, são constituídos pelas substâncias tóxicas resultantes da actividade celular. É claro que faz sentido haver uma sensação de repulsa, é tóxico! Ora, ninguém falou em comer/beber isso. A ideia é pegar na urina e retirar-lhe tudo o que não é água; no fim não estás a beber urina, é apenas água.

Cobras agora são insectos? E é claro que ninguém se vai meter a comer bicharada a torto e a direito! Há sim uma forte componente cultural, tal como em toda a alimentação.

Citação :

Human insect-eating is common in cultures in parts of the world, such as North, Central and South America; and Africa, Asia, Australia and New Zealand. Over 1,000 insects are known to be eaten in 80% of the world's nations.[1] However, in some societies insect-eating is uncommon or even taboo.[2][3][4][5] Today insect eating is rare in the developed world, but insects remain a popular food in many developing regions of Latin America, Africa, Asia and Oceania.

http://en.wikipedia.org/wiki/Entomophagy

Isto assim de repente, comer insetos é tipo comer camarões e lagostas, e no entanto não há assim muita gente que veja repulsa nisso, pelo contrário.
Admito que ao princípio me meteria confusão, mas não ia por isso deixar de experimentar, ainda que pudesse precisar de alguns instantes para ganhar coragem e tivesse que ter um copo de leite à beira.

Por falar nisso, leite acaba por ser nojento, afinal é uma secreção de outro animal, ainda que a função do leite seja servir de alimento. Arroz de cabidela também soa nojento se disseres "é arroz com sangue", mas imensa gente come e é dos meus pratos preferidos.

Ainda que haja uma razão biológica e evolutiva forte para sentirmos nojo por várias coisas (e a psicologia envolvida na questão da repulsa é muito interessante), tal não significa, como já foi dito, que seja algo que é obrigatoriamente mau, porque temos também que considerar a questão cultural.

Se se provar que a água obtida desse modo é idêntica à água que consumimos atualmente, por mim tudo bem, pode-se continuar com isso.